De onde vem o “Eu” de Skinner?
Da filosofia e da literatura, como
por exemplo de textos como os dois a seguir. Um exemplo de como na psicologia os processos não são´inventados, são descobertos. Várias abordagens podem se dedicar a estudar um mesmo processo usando pressupostos, ferramentas e linguagens diferentes. Uma Análise do Comportamento que define comportamento como a interação Organismo-Ambiente é incompatível com o tratamento dado por Skinner à personalidade como um sistema organizado de respostas, pois isso significaria apenas um sistema por organismo. Estudamos interações comportamento-ambiente e relações condicionais.
João Carlos Firmino Andrade de
Carvalho, “Cultura e Literatura: Intervenções”. Lisboa: CLEPUL, 2018.
“Reflectir sobre as representações
da figura do Estrangeiro conduz-nos, quase necessariamente, a uma abordagem da
problemática da identidade e da alteridade, das relações e limites
equacionáveis entre o Mesmo e o Outro. O Estrangeiro (ou o Outro) teve várias
configurações, em termos espacio-temporais: o Bárbaro, para os gregos da
Antiguidade; o Forasteiro, para as sociedades tradicionais (não necessariamente
primitivas); o Inimigo ou o Mal / o Demoníaco, para a Cristandade; o Eremita ou
o Peregrino, para os mais dados ao convívio humano ou para os menos inclinados
para as coisas do espírito; o Diferente / Exótico, para a era moderna
inaugurada pelos Descobrimentos; o viajante europeu Cosmopolita, para as
sociedades fechadas sobre si mesmas; o Libertino, para a moral conservadora; o
Exilado e o Desenraizado (lembremo-nos de O Estrangeiro de Albert Camus, 1942);
o Imigrante, para as sociedades europeias modernas e pós-modernas, etc. A
problemática do Estrangeiro requer que reconheçamos dois planos: o plano da
alteridade exterior (ou seja, o plano do “Nós e os Outros”, título de um
célebre livro de Tzvetan Todorov [Todorov, 1989]) e o plano da alteridade
interior (ou seja, o plano do “Je est un autre” de Arthur Rimbaud ou o do
“Étrangers à nous-mêmes”, título do não menos célebre livro de Julia Kristeva
[Kristeva, 1988], ou ainda o do Inconsciente de Freud). Estes dois planos,
porém, não são estanques, como bem sabemos. “
Todorov, T. (1993). Nós e
os outros: a reflexão francesa sobre a diversidade humana. Tradução de S.
G. de Paulo. Rio de janeiro: Zahar.
Todorov, T. (1989). A conquista da
América. A Questão do Outro. Tradução de
Beatriz Perrone Moi. São Paulo: Martins Fontes 2ª edição.
https://s3.amazonaws.com/academia.edu.documents/33775623/A_conquista_da_America_A_Questao_do_Outro_-_Tzvetan_Todorov.pdf?AWSAccessKeyId=AKIAIWOWYYGZ2Y53UL3A&Expires=1536678573&Si
gnature=wmuLSutmPbusuI%2BTLJg9mIU6R4Y%3D&response-content-disposition=inline%3B%20filename%3DA_conquista_da_America_A_Questao_do_Outr.pdf
“Quero falar da
descoberta que o eu faz do outro, o assunto é imenso. Mal acabamos de
formulá-lo em linhas gerais já o vemos subdividir-se em categorias e direções
múltiplas, infinitas. Podem-se descobrir os outros em si mesmo, e perceber que
não se é uma substância homogênea, e radicalmente diferente de tudo o que não é
si mesmo; eu é um outro. Mas cada um dos outros é um eu também, sujeito como
eu. Somente meu ponto de vista, segundo o qual todos estão lá e eu estou só
aqui, pode realmente separá-los e distingui-los de mim. Posso conceber os
outros como uma abstração, como uma instância da configuração psíquica de todo
indivíduo, como o Outro, outro ou outrem em relação a mim. Ou então como um
grupo social concreto ao qual nós não pertencemos. Este grupo, por sua vez,
pode estar contido numa sociedade: as mulheres para os homens, os ricos para os
pobres, os loucos para os "normais ". Ou pode ser exterior a ela, uma
outra sociedade que, dependendo do caso, será próxima ou longínqua: seres que
em tudo se aproximam de nós, no plano cultural, moral e histórico, ou
desconhecidos, estrangeiros cuja língua e costumes não compreendo, tão
estrangeiros que chego a hesitar em reconhecer que pertencemos a uma mesma espécie.
“