terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Análise do Comportamento Econômico e a macrocontingência do salário médio da população.


            Reconhece-se a condição de recessão econômica no Brasil; o Produto Nacional Bruto vem caindo por vários trimestres. O índice de desemprego mais que dobrou, a inflação ameaça ficar sem controle. Nessas condições está em discussão no Banco Central um aumento dos juros como instrumento para conter a inflação. Se isso acontecer, a inflação será domada via aumento ainda maior no desemprego e diminuição do salário médio real pago aos trabalhadores, já diminuído pela inflação. Esse processo pode ser visto como um conjunto de metacontingências e de macrocontingências.

            Contingências são relações condicionais. Relacionam uma situação, um comportamento, e a consequência que depende desse comportamento. Um exemplo de contingência comportamental pode ser visto no comportamento do desempregado; se procurar emprego, a probabilidade de conseguir é maior que zero; se não procurar é zero. Procurar emprego é reforçado por conseguir ser empregado. Como todo comportamento operante, entra em extinção quando nunca leva à consequência almejada.

            Metacontingências envolvem o comportamento colaborativo de pelo menos duas pessoas. Relacionam: (a) uma situação,  (b) o trabalho colaborativo de pessoas para produzir um efeito agregado, e (c) a consequência providenciada pelo ambiente cultural selecionador. Um exemplo de metacontingência é o que vai acontecer no Banco Central: com a inflação subindo a cada mês (situação), um conselho vai se reunir para chegar a uma decisão (efeito agregado), esperando que o efeito imediato na atividade de todos os agentes econômicos (incluindo eu e você) tenha como consequência a diminuição da inflação mensal.

            Macrocontingências envolvem o comportamento de muitas pessoas e de seus comportamentos regidos por contingências idênticas, mas independentes; não há colaboração, mas a macrocontingência se caracteriza pelo efeito cumulativo no ambiente social de um número tal de comportamentos independentes. É o caso do número de desempregados. Quando o desemprego é baixo, flutuações nesse índice não afetam o salário médio dos trabalhadores empregados. Os economistas consideram que cerca de 5% de desempregados na população é um índice bom para manter os salários (e a inflação) estáveis.  Se são poucos os desempregados os empregadores disputam contratações oferecendo salários mais altos; se são muitos, os desempregados aceitam trabalhar por menores salários.

            Buscar emprego é comportamento operante, individual, mas as circunstâncias em que ocorre resultam de decisões coletivas. Demissões ocorrem quando intervenções desastradas  no ambiente econômico desarranjam as cadeias de produção e consumo, alteram arbitrariamente preços relativos e geram insegurança em quem pode investir. Se os juros estão subindo mais que a inflação é melhor não trocar de carro agora, por exemplo, e por o dinheiro para render juros no mercado financeiro.

            Como Skinner já escrevia em 1953 no livro Ciência e Comportamento Humano, as leis das ciências sociais têm sua correspondência no comportamento de pessoas. É o dono do dinheiro que decide (contingência comportamental) guardar os dólares e gastar os reais. A macrocontingência é caracterizada pelo efeito cumulativo: “a moeda boa afugenta a moeda má.”