sábado, 24 de janeiro de 2015

Análise do Comportamento e Democracia


            Qual é a democracia que queremos? Pelo menos parte da militância do partido no poder rejeita a nossa democracia como “burguesa”. Querem a variedade “socialista”. O que chamam de “burguesa” tem três características importantes, segundo o pai da Ciência Política, Nicolas de Condorcet (List, 2011): pluralismo, governo da maioria e racionalidade coletiva. Trocando em miúdos: não pode haver partido único, é preciso respeitar as minorias, ganha quem tem mais votos, e quanto mais gente votar, mais racional é a decisão.
            Esse pressuposto da racionalidade coletiva é o problema. Em tese, se em uma decisão cada pessoa tem maior probabilidade de acertar do que errar, e cada uma decide independentemente das outras, quanto maior o número de pessoas decidindo maior a chance de a decisão ser a correta. Se 60% acertam e 40% erram, no cômputo geral a decisão certa ganha com 60% dos votos.
            Na prática as decisões não são independentes. Em qualquer eleição há um percentual de leitores que não gosta de “desperdiçar” o voto. Sempre dizem que vão votar no candidato que acham que vai ganhar, e mudam de voto assim que mudam as indicações de quem vai ganhar. Há outros que esperam pela família, pelos amigos, pela igreja, pelo sindicato, e ficam com a intenção de voto do grupo mesmo quando essa intenção coletiva muda de um candidato para outro.
            Outro problema é característico de eleições em dois turnos. Digamos que o José, quando perguntado quem prefere, o candidato A ou o B, prefira o A. Entre o A e o C prefira o C, e entre o B e o C prefira o B. No primeiro turno a escolha é entre A, B, e C.  Se o José vota no candidato A no primeiro turno e para o segundo turno a escolha é entre A e C, ele pode perfeitamente mudar o voto e ser coerente, pois sempre preferiu C a A. A chance de ocorrerem essas escolhas aparentemente irracionais aumenta em campanhas onde o que se discute são características pessoais de candidatos
            Esses pontos ajudam a explicar alianças entre partidos, são fatores que vão além da necessidade de ser formar maioria no congresso com a troca de apoio por cargos (e/ou outras coisas inconfessáveis): alguns desses partidos têm tempo de propaganda na televisão e, o mais importante, um número fantástico de votos de cabresto, dos fiéis da igreja, dos associados do sindicato, dos dependentes dos coronéis dos sertões.
            O caminho para chegar à racionalidade coletiva nas decisões do povo passa pela educação.  Povo educado é povo politizado



segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Quem tem saudades da educação moral e cívica?


         No jornal Correio Braziliense de 6 de janeiro de 2015 o colunista Ari Cunha escreveu:

“Notícia publicada neste jornal dando conta de que o deputado Rogério Carvalho (PT-SE) cedeu o apartamento funcional para alojar um contingente recrutado para reforçar a claque na cerimônia de posse da presidente Dilma é reveladora. Esse partido parece que se alimenta de mercenários. Somado a isso, fica estampada a dificuldade recorrente em separar o que é público do que é privado. Situação lamentável para quem prega um Brasil como pátria educadora. Quem educou alguém sabe que o exemplo é fundamental. Dona Dilma Rousseff terá um trabalho hercúleo pela frente com parte de seu staff.”
         Até aí tudo bem, o exemplo é mesmo muito importante na transmissão de práticas culturais. A solução preconizada pelo jornalista é que complica. Ele cita o pedagogo e filósofo René Hubert: a educação é o processo contínuo de desenvolvimento das faculdades físicas, intelectuais e morais do ser humano; a integração da pessoa na sociedade depende do estado dessas “faculdades”.
         Ao jogar a causa de ajustes e desajustes sociais para dentro de cada pessoa criamos um problema insolúvel para o educador. Integração na sociedade não é uma cerimônia de passagem, um batismo, e menos ainda um vestibular. “Faculdades mentais” são abstrações que escondem um caráter básico de interação comportamento-ambiente. Sei que as faculdades físicas de um aluno estão bem desenvolvidas quando ele mostra um dos melhores desempenhos na aula de educação física. Com as faculdades intelectuais a verificação é semelhante, ainda que mais complexa e bem mais difícil. Já as faculdades morais colocam um problema impossível para os que buscam uma explicação simples dentro de cada pessoa. A neurociência já avançou o suficiente para mostrar que não há núcleos isolados controlando “faculdades”, interações comportamento-ambiente envolvem mais que estruturas neurais e vias específicas.
         A tal integração na sociedade começa com as primeiras interações mãe-bebê. A sucção reflexa do seio é herança da espécie humana, mas o sugar rapidamente se transforma em comportamento operante, uma interação satisfatória para os dois personagens desse primeiro episódio social. Se o bebê não suga a mãe sofre com o acúmulo de leite na mama; se a mãe não tem leite o bebê sofre com a fome. Nenhuma interação social permanece sem coerção se não for mutuamente satisfatória.
         Se queremos uma sociedade integrada temos que olhar para essas primeiras interações, não só as que o professor observa quando a criança já vem interagindo com seu ambiente por mais de cinco anos. A integração da criança começa no berço.


quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Práticas culturais no país do faz-de-conta.


         Diz-se que no Brasil a educação não funciona porque o professor faz de conta que ensina e o aluno faz de conta que aprende. É uma verdade terrível, em grande parte. O sistema funciona quando os comportamentos do professor são sensíveis a mudanças desejáveis nos comportamentos do aluno, e essas mudanças ocorrem em função de suas consequências para quem aprende. Essa interação depende de aprendizagem anterior: o professor aprende a ensinar na escola de formação de professores, assim como o estudante aprende a ser aluno desde o maternal.

É inócuo discutir a relação professor-aluno sem falar em repertório, palavra abominada por muitos analistas do comportamento (talvez por lembrar “adversários” famosos como Piaget e Vygotski). Para ilustrar uma questão de repertório: um bebê da classe de renda A (a Zelite do Lula) aprende para que serve um livro folheando um, ilustrado e de plástico, enquanto brinca na banheira; aprende que deve ser importante por observar pais e irmãos lendo; e é reforçado pelas histórias que ouve quando são lidos. De 0 a 3 anos o repertório desenvolvido pelas crianças é tal que aos 4 anos crianças da classe de renda E já não tem condições de competir com seus colegas da classe A.

O sistema educacional funciona como se todos os alunos chegassem ao primeiro ano com repertórios equivalentes, o que não é o caso. As interações proveitosas professor-aluno vão ocorrer para aqueles alunos mais bem preparados.


Como os Estados Unidos aprenderam, não há programa do tipo “No Child Left Behind” que dê jeito. As diferenças em repertório em geral só aumentam, aprofundando o fosso entre oportunidades de emprego e renda. Nesse contexto é irreal o que consta da constituição quando atribui a responsabilidade de educação à família e ao Estado. Sem a intervenção precoce do Estado os filhos das classes economicamente menos favorecidas continuarão à margem do futuro.

domingo, 11 de janeiro de 2015

Planejamento cultural: de boas intenções o inferno está cheio.


O olho do dono é que engorda o boi. Decretos não mudam comportamento. Sem a certeza de punição não adianta campanha de marketing em todos os meios de comunicação para dizer que se correr o bicho pega. Cadê o bicho? Se o gato comeu, tchau e benção. Se o poder de polícia do governo estiver desmoralizado nenhuma lei nova pega.
Por outro lado, governos podem também incentivar de maneira positiva. Governos de qualquer partido, entre falcatruas e malfeitos, estelionatos eleitorais e conchavos, costumam acertar de vez em quando. Um exemplo disso foi o Programa Produtor de Água desenvolvido pela Agência Nacional de Águas do governo federal, planejado para remunerar quem ajudar a recompor ou a preservar o meio ambiente. No Distrito Federal a Bacia do Ribeirão Pipiripau, por sua importância para o abastecimento de água de Brasília, foi escolhida pela ANA para o início do programa no país, segundo a jornalista Ariadne Sakkis no jornal Correio Braziliense de 30 de abril de 2012. Vejamos as contingências (relações condicionais) planejadas pela política de Pagamento por Serviços Ambientais (reforço positivo como consequência de comportamentos socialmente desejáveis):
1.   Se o agricultor conservar e solo e reduzir a erosão então receberá entre R$ 30 e R$ 80 anuais por hectare.
2.   Se restaurar ou conservar Área de Preservação Permanente ou Reserva Legal, então receberá entre R$ 50 e R$ 200 por hectare de vegetação nativa plantada ou preservada.
3.   Se conservar remanescentes de vegetação nativa, então receberá de R$ 40 a R$ 160 anuais por hectare.

Como todo analista do comportamento sabe, regras e contingências só regulam comportamentos quando vigoram de fato. Alguém sabe a quantas anda esse programa? Qual é a percentagem dos milhões de agricultores brasileiros que se beneficiam dele? Quantos ministérios e secretarias estaduais e municipais devem colaborar para a efetiva implantação do programa? Se parou, parou por quê?

Voltando ao boi que engorda quando o dono vigia, o dono da lei é o povo, e é em seu nome que o legislativo faz leis, o governo governa e o judiciário manda punir desobediências. Nada vai funcionar bem se o povo não vigiar. Talvez por isso nenhum dos três poderes está realmente interessado em educar o povo.

         

sábado, 27 de dezembro de 2014

Os “libertários" da presidente.


                Impressionado com a guinada à direita do governo Dilma lembrei-me do economista Paul Krugman e sua coluna sobre os “libertários” estadunidenses norte-americanos. Krugman referia-se a um artigo na revista Times, escrito por Robert Draper, que identificou o “libertarianismo” com economia de mercado e visão social permissiva: todo o poder ao capital e o povo que se vire.
                Ao repartir o governo, e com isso o poder, entre seu partido e os partidos da base aliada, a grande maioria dos cargos de confiança e os comissionados ficará com pessoas que, em termos de esquerda, “da missa não sabem a metade”. Têm um perfil de “libertários”. A militância petista ideológica vai ter que batalhar para manter o nível de recursos destinados à diminuição da desigualdade de renda e de oportunidades.
                George Hilton vai fazer o marketing global de sua igreja antes, durante e depois da Olimpíada no Rio em 2016. Sua tarefa não é diminuir a desigualdade de renda, é aumentar o capital da igreja.
                Aldo Rebelo e seu partido sempre foram isolacionistas com relação ao mundo “não comunista”. O que vai fazer em um ministério que só tem sentido enquanto promove a internacionalização dos pesquisadores? A indicação é salva em parte pela nomeação de Luís Fernandes para a Secretaria Executiva.
                O jovem Barbalho na Pesca é a personificação do nepotismo coronelista, é a Roseana do Jáder. Deu no NY Times que os velhos coronéis da política no Brasil estão saindo de cena, mas ao que parece Sarney só perdeu uma eleição, mas não a guerra.
                Cid e Ciro são dois neocoronéis à procura de um partido só deles. Kassab é outro. Vão acabar se encontrando. Os irmãos ficam com o Norte e o Nordeste, Kassab com o resto. Parece que o Brasil não pode ficar sem caciques.
                Mas voltando a Draper e libertários: Krugman afirma que felizmente a juventude americana parece estar convencida da vantagem de um governo mais forte e regulador da atividade capitalista. Acredito que nossa juventude também está. E é isso que a propaganda enganosa lhes vende como mais um governo do PT. A sigla já impôs respeito no passado. Acho melhor falar do governo Dilma.

1.      




quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Sabedoria do Papa adaptada para behavioristas

Na mensagem de natal dirigida a cardeais e bispos o Papa surpreendeu e fez críticas sem precedentes ao comportamento dos membros da Cúria.
Inspirados pela crítica do Papa Francisco à Cúria Romana, aqui vão conselhos dirigidos apenas aos behavioristas amigos da internet (para não dizerem que me meti a Papa do behaviorismo):
1 – A sensação de imortalidade, imunidade ou de ser indispensável costuma acompanhar o sucesso profissional do analista do comportamento, mas é bom lembrar que o resto da Psicologia não pensa assim. O cemitério dos psicólogos está cheio de “ex-ímortais”, “ex-imunes” e de “ex-indispensáveis”.
2 – Cuidado com a excessiva diligência. Pare para pensar antes de seguir regras. Como disse o Papa, “negligenciar o descanso necessário leva ao estresse e à agitação” e isso vale também para os behavioristas.
3 – Cuidado com o endurecimento mental. Isso é combatido acompanhando de vez em quando o que o resto do mundo está fazendo.
4 – Não abuse do planejamento excessivo e da análise funcional. Imaginação e improvisação são as mães da inovação.
5 – A má coordenação mata o futuro. Behaviorismo e análise do comportamento são obras coletivas. Como disse o Papa, o individualismo faz a orquestra produzir ruído, não música. Se cada um começar a dar nomes novos aos velhos bois a vaca vai para o brejo.
6 – O Alzheimer acadêmico torna o behaviorista uma pessoa totalmente dependente de seus pontos de vista, muitas vezes imaginários.
7 – A glória pessoal e a rivalidade são doenças irmãs, e seus sintomas são a ênfase absoluta em publicar e ser citado.
8 – Cuidado com a hipocrisia existencial, a doença dos que se dedicam burocraticamente à crítica da teoria e perdem contato com o comportamento das pessoas vivendo em sociedade. Alguns se dedicam a vida dupla, definindo conceitos de uma forma e usando-os na prática de outra.
9 – Fujam de conversas e fofocas, as quais semeiam discórdia e maledicência.
10 – Badalar o chefe é bom para carreira na política. Não deveria funcionar na ciência e na profissão (mas nunca se sabe...).
11 – Quando todo mundo pensa em si mesmo a procissão não anda. Lembrem-se que o santo é de barro e muitos são necessários para carregar o andor.
12 – Behavioristas são arrogantes por natureza, mas não custa fazer um esforço e sorrir para os clientes.
13 – Os que gostam do trabalho cobram preços razoáveis e não escorcham a clientela. Já os que sentem “um vazio existencial em seu coração” afogam as mágoas com preços inacessíveis.
14 – Evitem os círculos fechados. Esses grupos tendem a se tornar muito fortes e a gerar dissidências que se apresentam depois como uma nova ciência (se disserem que eu estava pensando no Steve Hayes vou dizer que é mentira).
15 – Cuidado com o exibicionismo do poder. Segundo o Papa, é a doença que transforma seu serviço em poder, e seu poder em mercadoria para ganhar mais dinheiro ou ainda mais poder.

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Quem não tem baleia caça com peixe - a metacontingência no aquário.


Lucas Couto de Carvalho é meu ex-aluno e parceiro em algumas publicações. Atualmente é doutorando em Oslo, na Noruega.



Fazendo dos peixes grandes baleias

Lucas Couto de Carvalho

O conceito de metacontingência é uma ferramenta conceitual, primeiramente cunhado por Sigrid Glenn em 1986, que trata de fenômenos sociais dentro de uma perspectiva analítico comportamental. Esse conceito é novo, tem suas limitações e controvérsias, entretanto, têm-se dado atenção a ele de modo que seu refinamento e evolução estão sendo perseguidos (e.g., Todorov, 2013). Esse conceito era ainda mais novo para mim na época em que ingressei na pós-graduação. Naquele tempo, mais me preocupavam registros cumulativos de experimentos conduzidos com ratos do que qualquer outra coisa. Aos poucos, aquele conceito foi me interessando, passei cada vez mais a ler sobre comportamento de pessoas em grupo (e.g., Lamal, 1991), sobre experimentos publicados na área (e.g., Vichi, Andery, & Glenn, 2009) e, claro, gastando horas pensando sobre o conceito e tentando visualiza-lo em meu próprio ambiente natural.
Voltando aos animais, como estive bastante interessado em estudar comportamento de animais em caixas de Skinner, não pude me privar de tentar, nessa nova fase dos meus estudos, de encontrar algum experimento já publicado sobre comportamento social ou em sociedade em animais não-humanos. De fato encontrei (e.g., Graft, Lea, & Whitworth, 1977). Nessa mesma época, como não tinha televisão em meu flat, o que me restava era me distrair assistindo filmes ou seriados pelo YouTube. Na altura, sair era um pouco tedioso, já que lá fora só se via neve e luzes inventadas pelos homens (o inverno na Noruega não é fácil para brasileiros). Dentre os programas que me interessavam, incluíam-se aqueles que passam na Nathional Geographic, sobre animais selvagens em geral. Um exclusivamente chamou minha atenção, sobre estratégias de caça em baleias orcas. Ali percebi claramente um exemplo de seleção cultural (o link desse vídeo, para interessados: https://www.youtube.com/watch?v=3__L0oAa2T8). Fiquei maravilhado, pensei se fosse possível um dia presenciar tal fenômeno. Talvez uma parceria do nosso grupo de pesquisa com esses pesquisadores poderia me levar a isso (claro! Estava sonhando alto). Então esqueci, por hora.
Naquela época estava prestes a embarcar em uma viagem para Londres. Levando em consideração os valores das passagens, lembro-me de ter comprado nossos tickets (meu e de Nayara) para um aeroporto mais distante, localizado em Torp (Aeroporto de Sandefjord). Só para chegar ao aeroporto faz-se uma hora e meia de viagem por trem, partindo da Estação Central de Oslo. Levando esse tempo em consideração, pensei, “levarei comigo a biografia de Skinner para terminar de ler durante a viagem” (Skinner, 1979). Na ida, nada feito, a linda paisagem da Noruega deixou-me de lado a leitura. Mas na volta pude me concentrar naquele livro. A cada página que lia percebia o quanto Skinner se deliciava ao fazer experimentos com ratos, aquilo era animador. Volta e meia aquilo me fazia voltar os pensamentos às baleias. Parei de ler, aquele desejo de ver baleias se comportamento em grupo de maneira impressionantemente coordenada se intensificou. Porém, era óbvio que não seria possível criar duas baleias em um flat de apenas 14m2, e pesquisas no oceano, talvez mais impossível ainda.
Como era véspera de meu aniversário, ainda dentro do trem, pedi a Nayara que me desse um presente que seria para mim o melhor de todos, um aquário e dois peixes. Então ela indagou: “mas um aquário?”. E respondi que pensava em fazer um experimento no qual tentaria modelar peixes em uma metacontingência. Enquanto percebia seu olhar desconfiado, em mim falava aquele pensamento: “vou fazer de dois peixes as baleias”. Após semanas tentado modelar comportamentos naqueles peixes (que por sinal foi uma grande experiência perceber os detalhes daquele processo), então, finalmente, estavam lá, eles nadando de maneira coordenadas. Foi um daqueles momentos em que os sentimentos de Skinner faziam-se vivos. Aqueles peixes tinham me dado uma grande oportunidade de presenciá-los se comportando de acordo com uma contingência social da qual tinha planejado. Fortaleci os comportamentos em reforçamento contínuo e, logo depois, inseri um FR. Foi possível atingir FR 5 (um vídeo pode ser visto no YouTube de parte da sessão em FR 5: https://www.youtube.com/watch?v=8j4e-FNYJGw).
No final daquele semestre teríamos uma viagem ao Brasil e fiquei martelando o que faria com aqueles peixes. Afinal, me fizeram bastante feliz, não poderia simplesmente me desfazer deles. Demorei para resolver o que fazer, pelo que parece, por conta daquela sensação de que não poderia me despedir deles na altura do campeonato! No dia da viagem embalei-os dentro de um plástico e os enfiei dentro da minha mala. Viemos juntos ao Brasil! Hoje quando os vejo sempre nadando um próximo ao outro, penso: “Será que os procedimentos os aproximaram?”. A resposta pode, ou não, ser contada por mim ou outros em um próximo capítulo dessa história.
Referências
Graft, D. A., Lea, S. E. G., & Whithorth, T. L. (1977). The matching law in and whithin groups. Journal of Experimental Analysis of Behavior, 25, 183-194.
Lamal, P. A. (1991). Behavioral analysis of societies and cultural practices. New York: Hemisphere Publishing Corporation.
Skinner, B. F. (1979). The shaping of a behaviorist: Part two of an autobiography. New York: New York University Press.
Todorov, J. C. (2013). Conservation and transformation of cultural practices through contingencies and metacontingencies. Behavior and Social Issues, 22, 64-73.
Vichi, C., Andery, M. A. P. A., & Glenn, S. S. (2009). A metacontingency experiment: the effects of contingent consequences on patterns of interloking contingencies of reinforcement. Behavior and Social Issues, 12, 41-57.