Qual é a democracia que
queremos? Pelo menos parte da militância do partido no poder rejeita a nossa
democracia como “burguesa”. Querem a variedade “socialista”. O que chamam de
“burguesa” tem três características importantes, segundo o pai da Ciência Política,
Nicolas de Condorcet (List, 2011): pluralismo, governo da maioria e
racionalidade coletiva. Trocando em miúdos: não pode haver partido único, é
preciso respeitar as minorias, ganha quem tem mais votos, e quanto mais gente
votar, mais racional é a decisão.
Esse pressuposto da
racionalidade coletiva é o problema. Em tese, se em uma decisão cada pessoa tem
maior probabilidade de acertar do que errar, e cada uma decide
independentemente das outras, quanto maior o número de pessoas decidindo maior
a chance de a decisão ser a correta. Se 60% acertam e 40% erram, no cômputo
geral a decisão certa ganha com 60% dos votos.
Na prática as decisões
não são independentes. Em qualquer eleição há um percentual de leitores que não
gosta de “desperdiçar” o voto. Sempre dizem que vão votar no candidato que
acham que vai ganhar, e mudam de voto assim que mudam as indicações de quem vai
ganhar. Há outros que esperam pela família, pelos amigos, pela igreja, pelo
sindicato, e ficam com a intenção de voto do grupo mesmo quando essa intenção
coletiva muda de um candidato para outro.
Outro problema é
característico de eleições em dois turnos. Digamos que o José, quando
perguntado quem prefere, o candidato A ou o B, prefira o A. Entre o A e o C
prefira o C, e entre o B e o C prefira o B. No primeiro turno a escolha é entre
A, B, e C. Se o José vota no candidato A
no primeiro turno e para o segundo turno a escolha é entre A e C, ele pode
perfeitamente mudar o voto e ser coerente, pois sempre preferiu C a A. A chance
de ocorrerem essas escolhas aparentemente irracionais aumenta em campanhas onde
o que se discute são características pessoais de candidatos
Esses pontos ajudam a explicar alianças entre partidos, são fatores que
vão além da necessidade de ser formar maioria no congresso com a troca de apoio
por cargos (e/ou outras coisas inconfessáveis): alguns desses partidos têm
tempo de propaganda na televisão e, o mais importante, um número fantástico de
votos de cabresto, dos fiéis da igreja, dos associados do sindicato, dos
dependentes dos coronéis dos sertões.
O caminho para chegar à
racionalidade coletiva nas decisões do povo passa pela educação. Povo educado é povo politizado
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