segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Quem tem saudades da educação moral e cívica?


         No jornal Correio Braziliense de 6 de janeiro de 2015 o colunista Ari Cunha escreveu:

“Notícia publicada neste jornal dando conta de que o deputado Rogério Carvalho (PT-SE) cedeu o apartamento funcional para alojar um contingente recrutado para reforçar a claque na cerimônia de posse da presidente Dilma é reveladora. Esse partido parece que se alimenta de mercenários. Somado a isso, fica estampada a dificuldade recorrente em separar o que é público do que é privado. Situação lamentável para quem prega um Brasil como pátria educadora. Quem educou alguém sabe que o exemplo é fundamental. Dona Dilma Rousseff terá um trabalho hercúleo pela frente com parte de seu staff.”
         Até aí tudo bem, o exemplo é mesmo muito importante na transmissão de práticas culturais. A solução preconizada pelo jornalista é que complica. Ele cita o pedagogo e filósofo René Hubert: a educação é o processo contínuo de desenvolvimento das faculdades físicas, intelectuais e morais do ser humano; a integração da pessoa na sociedade depende do estado dessas “faculdades”.
         Ao jogar a causa de ajustes e desajustes sociais para dentro de cada pessoa criamos um problema insolúvel para o educador. Integração na sociedade não é uma cerimônia de passagem, um batismo, e menos ainda um vestibular. “Faculdades mentais” são abstrações que escondem um caráter básico de interação comportamento-ambiente. Sei que as faculdades físicas de um aluno estão bem desenvolvidas quando ele mostra um dos melhores desempenhos na aula de educação física. Com as faculdades intelectuais a verificação é semelhante, ainda que mais complexa e bem mais difícil. Já as faculdades morais colocam um problema impossível para os que buscam uma explicação simples dentro de cada pessoa. A neurociência já avançou o suficiente para mostrar que não há núcleos isolados controlando “faculdades”, interações comportamento-ambiente envolvem mais que estruturas neurais e vias específicas.
         A tal integração na sociedade começa com as primeiras interações mãe-bebê. A sucção reflexa do seio é herança da espécie humana, mas o sugar rapidamente se transforma em comportamento operante, uma interação satisfatória para os dois personagens desse primeiro episódio social. Se o bebê não suga a mãe sofre com o acúmulo de leite na mama; se a mãe não tem leite o bebê sofre com a fome. Nenhuma interação social permanece sem coerção se não for mutuamente satisfatória.
         Se queremos uma sociedade integrada temos que olhar para essas primeiras interações, não só as que o professor observa quando a criança já vem interagindo com seu ambiente por mais de cinco anos. A integração da criança começa no berço.


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