No jornal Correio Braziliense de 6 de janeiro de 2015 o colunista Ari Cunha escreveu:
“Notícia
publicada neste jornal dando conta de que o deputado Rogério Carvalho (PT-SE)
cedeu o apartamento funcional para alojar um contingente recrutado para
reforçar a claque na cerimônia de posse da presidente Dilma é reveladora. Esse
partido parece que se alimenta de mercenários. Somado a isso, fica estampada a
dificuldade recorrente em separar o que é público do que é privado. Situação
lamentável para quem prega um Brasil como pátria educadora. Quem educou alguém
sabe que o exemplo é fundamental. Dona Dilma Rousseff terá um trabalho hercúleo
pela frente com parte de seu staff.”
Até aí tudo bem, o exemplo é mesmo
muito importante na transmissão de práticas culturais. A solução preconizada
pelo jornalista é que complica. Ele cita o pedagogo e filósofo René Hubert: a
educação é o processo contínuo de desenvolvimento das faculdades físicas,
intelectuais e morais do ser humano; a integração da pessoa na sociedade
depende do estado dessas “faculdades”.
Ao jogar a causa de ajustes e
desajustes sociais para dentro de cada pessoa criamos um problema insolúvel
para o educador. Integração na sociedade não é uma cerimônia de passagem, um
batismo, e menos ainda um vestibular. “Faculdades mentais” são abstrações que
escondem um caráter básico de interação comportamento-ambiente. Sei que as
faculdades físicas de um aluno estão bem desenvolvidas quando ele mostra um dos
melhores desempenhos na aula de educação física. Com as faculdades intelectuais
a verificação é semelhante, ainda que mais complexa e bem mais difícil. Já as
faculdades morais colocam um problema impossível para os que buscam uma
explicação simples dentro de cada pessoa. A neurociência já avançou o
suficiente para mostrar que não há núcleos isolados controlando “faculdades”, interações
comportamento-ambiente envolvem mais que estruturas neurais e vias específicas.
A tal integração na sociedade começa
com as primeiras interações mãe-bebê. A sucção reflexa do seio é herança da
espécie humana, mas o sugar rapidamente se transforma em comportamento
operante, uma interação satisfatória para os dois personagens desse primeiro
episódio social. Se o bebê não suga a mãe sofre com o acúmulo de leite na mama;
se a mãe não tem leite o bebê sofre com a fome. Nenhuma interação social
permanece sem coerção se não for mutuamente satisfatória.
Se queremos uma sociedade integrada
temos que olhar para essas primeiras interações, não só as que o professor observa
quando a criança já vem interagindo com seu ambiente por mais de cinco anos. A
integração da criança começa no berço.
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