Diz-se que no Brasil a educação não
funciona porque o professor faz de conta que ensina e o aluno faz de conta que
aprende. É uma verdade terrível, em grande parte. O sistema funciona quando os
comportamentos do professor são sensíveis a mudanças desejáveis nos
comportamentos do aluno, e essas mudanças ocorrem em função de suas
consequências para quem aprende. Essa interação depende de aprendizagem
anterior: o professor aprende a ensinar na escola de formação de professores,
assim como o estudante aprende a ser aluno desde o maternal.
É inócuo discutir a relação professor-aluno sem falar em
repertório, palavra abominada por muitos analistas do comportamento (talvez por
lembrar “adversários” famosos como Piaget e Vygotski). Para ilustrar uma
questão de repertório: um bebê da classe de renda A (a Zelite do Lula) aprende
para que serve um livro folheando um, ilustrado e de plástico, enquanto brinca
na banheira; aprende que deve ser importante por observar pais e irmãos lendo;
e é reforçado pelas histórias que ouve quando são lidos. De 0 a 3 anos o
repertório desenvolvido pelas crianças é tal que aos 4 anos crianças da classe
de renda E já não tem condições de competir com seus colegas da classe A.
O sistema educacional funciona como se todos os alunos
chegassem ao primeiro ano com repertórios equivalentes, o que não é o caso. As
interações proveitosas professor-aluno vão ocorrer para aqueles alunos mais bem
preparados.
Como os Estados Unidos aprenderam, não há programa do tipo
“No Child Left Behind” que dê jeito. As diferenças em repertório em geral só
aumentam, aprofundando o fosso entre oportunidades de emprego e renda. Nesse
contexto é irreal o que consta da constituição quando atribui a
responsabilidade de educação à família e ao Estado. Sem a intervenção precoce
do Estado os filhos das classes economicamente menos favorecidas continuarão à
margem do futuro.
Dados da pesquisa conduzida por Hart e Risley - publicados no livro "Meaningful differences in the everyday experience of young american children" - indicam que a diferença no repertório verbal vocal é imensa e exigiria dezenas de horas semanais de aprendizagem programada (além da cotidiana, informal) para ser superada.
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