Dirigindo
meu Ford Falcon 1958 para ir ao cinema com a Silvia em Phoenix, Arizona, virei
á esquerda em uma avenida de seis pistas mesmo estando na pista do meio e sem
ligar a seta. Não deu outra. Antes de meio quarteirão havia um carro de polícia
com as luzes piscando. O policial foi muito gentil e não me multou, depois de
ver os passaportes e o documento de estudante da Arizona State University. Era 1966 e naquela época havia carros de
polícia por todo lado, especialmente em cruzamentos movimentados. Como
consequência, todos respeitavam ao pé da letra as regras do trânsito. Uma placa
vermelha de PARE controlava muito bem o comportamento de parada total do
veículo, mesmo sem outros carros nas ruas.
Lembrei-me
desse episódio hoje cedo, dirigindo para ir ao barbeiro. Em uma rua movimentada
um caminhão nem diminuiu a velocidade na esquina, como eu faria no Brasil. Aqui
é claro que parei e coloquei a primeira marcha antes de continuar, pensando na
falta que faz a presença ostensiva do Estado na fiscalização das leis. Em um mês dirigindo por Setauket, Port Jefferson e Stonybrook só vi carros de polícia uma vez, em estacionamento de supermercado onde havia sido deixado um pacote suspeito. Os americanos não eram cidadãos mais
responsáveis do que nós, apenas desenvolveram ao longo de sua história agências
de controle eficazes na manutenção das contingências que mantêm práticas
culturais.
Alguns
diriam que nos falta autocontrole ético. Todos deveriam obedecer as leis porque
isso é bom para a comunidade. Mas o chamado “autocontrole ético” é comportamento,
dependente das consequências como todo comportamento. São as agências de
controle, descritas por Skinner em “Ciência e Comportamento Humano”, as
encarregadas de punir comportamentos considerados indesejáveis pela cultura.
Para ver como essa história de punições e ameaças modela nosso “autocontrole
ético” ver, além de Skinner, o “Coerção” de Murray Sidman. E pense nisso na próxima
vez que você avançar um sinal vermelho de noite e sentir um frio na barriga.
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