. Dois artigos recentes no New York
Times mostram a importância de um esclarecimento continuo do público sobre o
que e’ Analise do Comportamento. Um tratava de consequências arbitrarias como
suborno – você não pode reforçar seu filho por ler ao invés de jogar vídeo games,
isso e’ suborno, propina, pixuleco. Ele tem que descobrir os prazeres da
leitura sozinho. Outro artigo está no The New York Times Magazine de 31 de
julho de 2016, e diz como ensinar um rato. O entrevistado tem currículo para
falar do assunto pois treinou milhares de ratos para filmes como ‘’Bram Stoker’s
Dracula’’ e ‘’Willard’’ e séries da televisão como ‘’True Blood’’.
Sobre consequência condicional como
suborno: o tesoureiro do partido do governo avisar o empresário que seu
contrato com o governo só será assinado se doar recursos para o partido e’
situação de extorsão (ato do tesoureiro) e propina ou suborno (ato do empresário).
A mãe estabelecer que o tempo livre para brincar depende de 30 minutos lendo e’
parte de inúmeras outras relações condicionais que a cultura determina que
devem ser ensinadas – como lavar as mãos antes de comer, escovar os dentes
depois das refeições, tomar banho no fim do dia, etc. Todas são relações
condicionadas arbitrarias.
Se eu escrevesse aqui que você não
pode subornar seu filho estabelecendo lavar as mãos antes das refeições como
condição para almoçar, os leitores achariam que estou ficando doido.
Já’ o artigo sobre como ensinar o
rato e’ um exemplo de difusão de informação errada. A razão para usar comida
como consequência para modelar comportamentos está errada, parece que de
proposito, para tornar o procedimento mais palatável ao público – seria melhor
para a saúde do rato ter que trabalhar para comer do que ficar na gaiola
engordando por comer demais sem se exercitar. O uso de reforço condicionado (um
‘clique’ produzido por um artefato de metal que você segura na mão) também e’
mal explicado – você começa por estabelecer contato amigável com o rato,
segurando-o e fazendo carinho, ate’ que a inundação de respondentes no bicho se
acalme. Quando ele estiver calmo o suficiente para ter fome, as pelotas de
alimento são dadas e seguidas pelo clique. O clique vem depois da comida para
que esse novo som não assuste do animal.
Estabelecido o clique como estimulo
neutro começa a associação clique-comida. De início um clique e’ sempre seguido
por comida, mas logo essa relação vai sendo alterada de tal maneira que e’ possível
exibir um desempenho complexo mantido apenas por reforço condicionado produzido
por um aparelho escondido na mão do treinador.
Até ai’ tudo bem. A explicação do treinador e’ que atrapalha. Diz ele: “Comece
a associar o clique e a comida para que o
rato entenda a relação de causa e efeito”.
“Aumente a distância entre o som e a comida ate’ que o rato perceba que o som e’ uma promessa de
comida”. Mas não espere mais que 30 segundos depois do clique para dar a
comida”. “Sessões de 10 minutos são mais proveitosas”.
Ai’ esta’ o que acontece quando métodos
e técnicas desenvolvidos pela Análise do Comportamento são usadas por quem não
tem formação teórica adequada. O relato antropomórfico e’ desnecessário, supérfluo
e errado. Informações técnicas mostram despreparo. O texto a seguir mostra como
funciona a modelagem de longas cadeias de respostas em ratos. Foi publicado em
outra postagem neste blog –
jctodorov.blogspot.com/2010/05/operantes-complexos.html
Eis o que apresentei na reunião da
Sociedade Brasileira pelo Progresso da Ciência – SBPC - ocorrida em Ribeirão
Preto, Estado de São Paulo, em julho de 1964 (Todorov, J. C. “Brasilino II: uma
demonstração de encadeamento de respostas”.).
Brasilino II trabalhou (e fez seu
professor trabalhar) uma hora por dia durante 30 dias para completar um
encadeamento de 21 componentes. O último componente era pressionar uma barra
dentro da caixa experimental e receber água como consequência. O primeiro era
deixar a caixa experimental e se dirigir para uma escada vertical que o levava
para o alto de uma estante com estrutura de barras de alumínio com1, 50 m de
altura, com três prateleiras. No meu site
https://sites.google.com/site/jctodorov/ a primeira foto mostra sua chegada na
plataforma superior, dirigindo-se em alta velocidade para uma seqüência de
pinos de metal que deveria ser percorrida, um pino pela esquerda, o seguinte
pela direita, etc. Outros componentes incluíam saltar um aro de metal colocado
a 15 cm do piso (a parte de baixo do aro aparece na foto no alto à esquerda),
correr para uma plataforma e saltar o espaço vazio até a plataforma de descida
(um pedaço da primeira plataforma aparece também no alto da foto à esquerda),
descer pela escada lateral para a prateleira de baixo, etc., até um labirinto
que tomava todo o piso inferior, penúltimo de 21 elos da cadeia.
Brasilino II foi treinado da frente
pata trás, isto é, aprendeu primeiro a pressionar a barra para beber água. Em
seguida aprendeu que a pressão à barra só era seguida por água quando uma
campainha estivesse soando. Em termos técnicos, na contingência tríplice água
foi o estímulo reforçador primário, pressão à barra a resposta operante e a
campainha o estímulo discriminativo. O próximo passo foi usar a campainha como
estímulo reforçador condicionado para a resposta de sair do labirinto e
dirigir-se para a caixa experimental. O rato era colocado, sem som, na saída do
labirinto e o som começava a tocar quando ele se dirigia para a caixa. Da mesma
forma aprendeu para que lado virar em cada esquina do labirinto (havia cerca de
15 escolhas entre esquerda ou direita que tinha que fazer). Qualquer erro fazia
o som parar, e o som só recomeçava quando Brasilino II retomava o caminho
certo.
Brasilino II foi inspirado no rato
Barnabus, ensinado por meu professor na USP J. Gilmour Sherman,(quando estudava
na Columbia University de Nova Iorque, nos anos 50).
Comparações entre ensinar cadeia
para trás, como fizemos com o Brasilino II, ou para frente, tem sido
publicadas:
Borges, M. M., Simonassi, L. E.,
& Todorov, J. C. (1979). Comparação de dois procedimentos na aquisição de
cadeias de respostas em humanos. Anais da IX Reunião Anual da Sociedade de
Psicologia de Ribeirão Preto, p.107.
Borges, M. M. (1982). Efeitos de
dois procedimentos na aprendizagem de cadeias comportamentais. Dissertação de
Mestrado, (Psicologia), Universidade de Brasília.
Borges,
M. M. & Todorov, J. C. (1985). Aprendizagem
de cadeias comportamentais: uma comparação entre dois procedimentos.
Psicologia: Teoria e Pesquisa, 1 (3), 237-248.
Muito bom! Mas, no caso da mãe que "suborna" o filho, é controvérsio pq para ela parece ser um reforço, porém as contingências para alguém que está sendo "obrigado" a ler podem se tornar aversivas.
ResponderExcluirSobre os encadeamentos, esse tipo de modelagem demonstra quais relações contingenciais com o ser humano em contexto cultural?
http://jctodorov.blogspot.com/2015/07/transferencia-condicionada-de-renda.html
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