Ralph
Hefferline faz parte da história da Análise do Comportamento. Em 1953 publicou
em Science um artigo clássico, uma demonstração de que o efeito da contingência
operante dispensa a consciência da pessoa sobre as variáveis que afetam seu
comportamento:
“An invisibly small
thumb-twitch increased in rate of occurrence when it served, via
electromyographic amplification, to terminate or postpone aversive noise
stimulation. Subjects remained ignorant of their behavior and its effect. Their
cumulative response curves resembled those obtained in similar work with
animals. Other subjects, informed of the effective response, could not produce
it deliberately in a size small enough to qualify for reinforcement.”
Resumindo
como um behaviorista, as contingências que prevalecem no aqui-e-agora são mais
importantes que qualquer outra explicação para o comportamento que ocorre
aqui-e-agora.
Ralph
Hefferline é o mesmo que dois anos antes havia publicado um livro clássico da
terapia gestáltica em parceria com Fritz Perls., citado em artigo recente da
Revista da Abordagem Gestáltica, abordando as diferentes definições e os usos
da expressão "aqui-e-agora".
Confesso que primeiro me interessei pelo artigo,
quando avisado de sua publicação pela rede Academia, porque uma das autoras
trabalhou no IESB antes de ser aprovada em concurso na Universidade Federal do
Paraná. Mas como todo comportamento é multideterminado, certamente
influenciaram a decisão de ler o conhecimento das afinidades entre AC e fenomenologia, e as dezenas de conversas
com meus amigos gestaltistas, aí incluída a Joannelise Freitas. Além do mais, o
trabalho de Hefferline foi uma da atrações que me levaram a começar o
doutorado na Arizona State University, com Arthur J. Bachrach como chefe do
departamento. Bachrach havia publicado recentemente o livro “Experimental
Foundations of Clinical Psychology”, com um capítulo assinado por Hefferline.
Aqui
vai, então, o endereço para quem quiser entender melhor porque nem sempre a
contingência presente prevalece sobre experiências anteriores, e porque regras
e modelos nem sempre facilitam a vida.
“Perls et al. (1997)
afirmam que é só no aqui-e-agora que se pode ter consciência das próprias
capacidades sensoriais, motoras e intelectuais. E dessa forma, propõem uma
terapia que consiste na análise da estrutura interna da experiência
concreta, promovendo mais a concentração no padrão de interrupções da pessoa do
que no conteúdo próprio da interrupção. Isso significa que o foco na
Gestalt-terapia é redirecionado para como a experiência está sendo vivida,
relembrada e retida no presente. O aqui-e-agora abrange uma conscientização que
vai além das categorias de conteúdo (porque), das abstrações, verbalizações ou
relações causais traçadas, para incluir as formas, a relação e
a corporeidade que surgem no aqui-e-agora por meio das realidades sensoriais
e motoras disponíveis (Costa, 2004; Mesquita, 2011; Perls, 2012; Perls et al.,
1997; Polster & Polster, 2001). Perls et al. (1997) destacam a importância
da expressão facial, do tom de voz, da sintaxe, da postura, do afeto, da
omissão e da consideração ou falta de consideração. Costa (2004) salienta que
os gestos, assim como os pensamentos, revelam o si-mesmo que se interrompeu.
Polster e Polster (2001) descrevem as expressões simbolizadas na eloquência
verbal, no choro, no grito, no soco e na repreensão. A flexibilização daquilo
que havia enrijecido no passado é passível de ser revivido então, por meio dos
recursos corporais que a pessoa dispõe no momento”. (Renhart, &
Freitas, 2016, p. 40).
Renhart, P. A. & Freitas. J. L. (2016). A temporalidade
do aqui-e-agora gestáltico: implicações teóricas e práticas. Revista da Abordagem Gestáltica
- Phenomenological Studies - XXII(1): 39-48.
www.academia.edu/25986727/A_temporalidade_do_aqui-e-agora_gestáltico_implicações_teóricas_e_práticas
·
Perls, Fritz, R. Hefferline, & P.
Goodman. [1951] 1977. Gestalt
Therapy: Excitement and Growth in the Human Personality. Gestalt Journal Press. ISBN 0939266245.
Olá,
ResponderExcluirVc comenta que " nem sempre a contingência presente prevalece sobre experiências anteriores, e porque regras e modelos nem sempre facilitam a vida."
Por que?
Queri ver a crítica.
Abraço
Regras e modelos nem sempre nos preparam para novas circunstâncias. É sempre importante distinguir a contingência que prevalece no aqui-e-agora das regras aprendidas sob outras contingências.
ResponderExcluirEntendi. Obrigado, professor!
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