domingo, 12 de junho de 2016

Análise do Comportamento, Ralph Hefferline, Friedrich (Fritz) Perls , e o aqui-e-agora.


                Ralph Hefferline faz parte da história da Análise do Comportamento. Em 1953 publicou em Science um artigo clássico, uma demonstração de que o efeito da contingência operante dispensa a consciência da pessoa sobre as variáveis que afetam seu comportamento:


An invisibly small thumb-twitch increased in rate of occurrence when it served, via electromyographic amplification, to terminate or postpone aversive noise stimulation. Subjects remained ignorant of their behavior and its effect. Their cumulative response curves resembled those obtained in similar work with animals. Other subjects, informed of the effective response, could not produce it deliberately in a size small enough to qualify for reinforcement.”

                Resumindo como um behaviorista, as contingências que prevalecem no aqui-e-agora são mais importantes que qualquer outra explicação para o comportamento que ocorre aqui-e-agora.

                Ralph Hefferline é o mesmo que dois anos antes havia publicado um livro clássico da terapia gestáltica em parceria com Fritz Perls., citado em artigo recente da Revista da Abordagem Gestáltica, abordando as diferentes definições e os usos da expressão  "aqui-e-agora". 

Confesso que primeiro me interessei pelo artigo, quando avisado de sua publicação pela rede Academia, porque uma das autoras trabalhou no IESB antes de ser aprovada em concurso na Universidade Federal do Paraná. Mas como todo comportamento é multideterminado, certamente influenciaram a decisão de ler o conhecimento das afinidades entre AC  e fenomenologia, e as dezenas de conversas com meus amigos gestaltistas, aí incluída a Joannelise Freitas. Além do mais, o trabalho de Hefferline foi uma da atrações que me levaram a começar o doutorado na Arizona State University, com Arthur J. Bachrach como chefe do departamento. Bachrach havia publicado recentemente o livro “Experimental Foundations of Clinical Psychology”, com um capítulo assinado por Hefferline.

                Aqui vai, então, o endereço para quem quiser entender melhor porque nem sempre a contingência presente prevalece sobre experiências anteriores, e porque regras e modelos nem sempre facilitam a vida.
  
“Perls et al. (1997) afirmam que é só no aqui-e-agora que se pode ter consciência das próprias capacidades sensoriais, motoras e intelectuais. E dessa forma, propõem uma terapia que consiste na análise da estrutura interna da experiência concreta, promovendo mais a concentração no padrão de interrupções da pessoa do que no conteúdo próprio da interrupção. Isso significa que o foco na Gestalt-terapia é redirecionado para como a experiência está sendo vivida, relembrada e retida no presente. O aqui-e-agora abrange uma conscientização que vai além das categorias de conteúdo (porque), das abstrações, verbalizações ou relações causais traçadas, para incluir as formas, a relação e a corporeidade que surgem no aqui-e-agora por meio das realidades sensoriais e motoras disponíveis (Costa, 2004; Mesquita, 2011; Perls, 2012; Perls et al., 1997; Polster & Polster, 2001). Perls et al. (1997) destacam a importância da expressão facial, do tom de voz, da sintaxe, da postura, do afeto, da omissão e da consideração ou falta de consideração. Costa (2004) salienta que os gestos, assim como os pensamentos, revelam o si-mesmo que se interrompeu. Polster e Polster (2001) descrevem as expressões simbolizadas na eloquência verbal, no choro, no grito, no soco e na repreensão. A flexibilização daquilo que havia enrijecido no passado é passível de ser revivido então, por meio dos recursos corporais que a pessoa dispõe no momento”. (Renhart, & Freitas, 2016, p. 40).

Renhart, P. A. & Freitas. J. L. (2016). A temporalidade do aqui-e-agora gestáltico: implicações teóricas e práticas. Revista da Abordagem Gestáltica - Phenomenological Studies - XXII(1): 39-48.


·         Perls, Fritz, R. Hefferline, & P. Goodman. [1951] 1977. Gestalt Therapy: Excitement and Growth in the Human Personality. Gestalt Journal Press. ISBN 0939266245.





3 comentários:

  1. Olá,
    Vc comenta que " nem sempre a contingência presente prevalece sobre experiências anteriores, e porque regras e modelos nem sempre facilitam a vida."
    Por que?
    Queri ver a crítica.
    Abraço

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  2. Regras e modelos nem sempre nos preparam para novas circunstâncias. É sempre importante distinguir a contingência que prevalece no aqui-e-agora das regras aprendidas sob outras contingências.

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