Autocontrole não é conceito nem termo técnico da Análise do
Comportamento. Skinner escreveu sobre autocontrole, assim como escreveu sobre
id, ego, superego, masoquismo, desejo, sublimação, etc., e nenhum deles é termo
técnico da Análise do Comportamento. São termos da linguagem comum, ainda que
propostos por outras abordagens da psicologia, e encontram-se definidos em
qualquer dicionário. Na análise que faz desses termos Skinner os desmistifica.
“The
individual often comes to control part of his own behavior when a response has
conflicting consequences – when it leads to both positive and negative
consequences”.
… “The
positive and negative consequences generate two responses which are related to
each other in a special way: one response, the controlling response, affects variables in such a way as to change
the probability of the other, the controlled
response”.
B. F. Skinner, Science and Human
Behavior, 1953, p. 230-231.
Episódios explicados pela atuação
de uma força interior hipotetizada são reinterpretados como demonstração da
possibilidade de um comportamento controlar outro comportamento. Esses
episódios costumam acontecer quando um comportamento pode ser ao mesmo tempo
reforçado e punido, levando a um equilíbrio na probabilidade desse
comportamento ocorrer ou não ocorrer. É possível diminuir a probabilidade de
emissão de uma resposta punida manipulando-se algumas variáveis que tornam esse
comportamento provável. Skinner não
inventou qualquer conceito novo para explicar isso. Vejamos um exemplo:
Ao
preparar uma lista de compras posso controlar meu comportamento de consumidor
no supermercado. A resposta controladora é preparar uma lista, a resposta
controlada é comprar. Note-se que preparar a lista não impede que eu compre
algo que não devia, só diminui essa probabilidade. Assim como eu controlo agora meu
comportamento posterior no supermercado. a lista poderia ser preparada por
outra pessoa, com o mesmo resultado. O controle é o mesmo, nos dois casos. Mas
no primeiro o leigo diria que é uma demonstração de autocontrole. Mas nos casos
o fator importante é a manipulação da variável independente, não importando o
agente.
Mais
citado como exemplo de autocontrole na Análise do Comportamento, o procedimento
desenvolvido por Rachlin foge à definição de Skinner, mas está de acordo com o
entendimento do leigo. Trata-se de escolher entre um reforço mais imediato, mas
de menor magnitude, e um reforço menos imediato (ou mais atrasado) mas de maior
magnitude. A escolha “racional” seria esperar mais e ganhar mais, a escolha “impulsiva”
seria preferir o reforço de menor magnitude. Mas não há resposta controladora,
nem resposta controlada: não há “autocontrole” nem no sentido usado por Skinner.
A escolha de uma ou de outra depende apenas dos valores relativos dos atrasos e
das magnitudes, e pode ser prevista por uma equação que caracteriza a Lei da
Igualação de Herrnstein, generalizada por Baum para mais de uma variável
independente.
http://www.scielo.br/pdf/ptp/v18n3/a14v18n3.pdf
Boa mestre! Mas a contribuição importante do Rachiln é a análise de situações com reforço maior atraso vs menor imediato como uma situação de conflito. Se a escolha for antecipada (escolher o que comprar antes de chegar no supermercado) aumenta-se a probabilidade de só comprar o que está na lista. Foi o que ele mostrou no estudo clássico de Rachlin & Green (1972). Essa resposta pode ser considerada uma "resposta controladora" no sentido Skineriano. Desse modo, o "autocontrole" e respostas que controlam outras respostas estam sujeitas também ao controle dos valores relativos de reforçamento. Isso é bonito na análise do Rachlin. Abraço!
ResponderExcluirÉ o caso já mostradp acima. Quanto maior o tempo entre o "commitment" e as respostas reforçadas mais próxima de 1 a razão entre frequências (ou recíprocas dos atrasos). Como a diferença em magnitude não se altera, a magnitude passa a ter mais peso na decisão. e aí você tem razão: tudo está sob controle dos valores relativos.
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