A universidade brasileira e as verdades do Professor Dianese.
Das alegadas
vinte verdades, concordo com quase todas. Há, porém, alguns exageros e pelo
menos duas ou três informações erradas.
“Antes da grande greve, a UnB, graças à sua renda
própria, podia e legalmente pagava salários melhores do que todas as outras
federais - passou a depender da tabela nacional ditada pelo Mec.”
Errado. A UnB nunca pagou
salários com recursos gerados por seu patrimônio. A isonomia entre
universidades fundacionais ocorreu porque docentes no Acre ganhavam mais que na
UnB, por exemplo. A isonomia entre fundacionais e autárquicas ocorreu porque estas
pagavam salários ridículos. A médio prazo tivemos um nivelamento pela média,
todas sendo tratadas como autárquicas. Do governo Sarney para cá nenhum presidente
quis encarar o próximo passo: o país não tem recursos para ter 60 universidades
federais de ponta, internacionalmente respeitadas, nem tem coragem de
estabelecer um ranking com base em vocação e competência. As 60 competem por
recursos federais amparadas por seus padrinhos políticos, como qualquer
prefeitura do interior. Voltar a 1960 e tratar a UnB como fundação, nem pensar.
A pressão política contrária das outras 59 seria esmagadora.
Sobre o
patrimônio da UnB, até 1985 praticamente não saiu do papel. Perderam-se nos
desvãos da ditadura as ações da Rádio Nacional, por exemplo. As projeções
(terrenos) para construção de edifícios residenciais e comerciais foram
tratadas ora como patrimônio para renda, ora como recursos para consumo ou
investimento no campus – residências para os professores não eram construídas
desde 1964. A política iniciada em 1994, de troca de terreno área por construída,
rendeu dividendos que propiciaram a administrações seguintes praticamente
igualar com recursos próprios o que recebe do tesouro para consumo. Hoje até
esses recursos estão engessados, a UnB precisa de autorização do governo para
usá-los.
O corporativismo
é filho do diabo, todos sabemos. Menos quando atua em nosso favor. Sou suspeito
para falar da eleição para reitor porque fui eleito no primeiro turno no
sistema paritário não universal (peso de 1/3 para a votação de cada segmento –
e ganhei nos três segmentos). Nossa atuação entre 1993 e 1997 não deve ter sido
ruim pois o reitor eleito em 1997 e reeleito em 2001 participou da
administração como decano e tinha nosso apoio. Já o sistema norte-americano de
carreiras separadas de administração e docência, e escolha do reitor apenas
pelo Conselho Diretor (como foi feito na UnB de 1961 a 1964), certamente teria
gerado, a partir da eleição do Presidente Lula, reitores do partido do governo
ou da base aliada. Que tal um pastor como reitor?
Defensores da
escolha do reitor por conselhos independentes costumam citar Harvard e outras
universidades de ponta como exemplo. Mas mesmo nos Estados Unidos há
universidades nas quais o técnico de futebol americano ganha mais e tem mais
poder que o reitor. Conheço um caso de uma reitora que mandou cortar árvores do
campus e plantou flores, para alegrar a universidade; não durou muito, porque
os docentes protestaram.
“Compromissos eleitorais podem levar ao mau uso do patrimônio. A
UnB deu a seus imóveis no campus, uma aplicação mais social do que acadêmica. O
destino deles deveria se limitar ao uso para atrair docentes para uma cidade de
alto custo de aluguéis e para abrigar estudantes - inclusive e talvez
principalmente, estudantes de pós-graduação.”
Verdade. A tabela de pagamento subsidiado
do aluguel de apartamentos para professores e funcionários foi atualizada pela
última vez em novembro de 1993. Quando a maioria de votantes mora nos
apartamentos que terão o aluguel reajustado dá nisso, como já previa a Tragédia
dos Comuns.
“Em segundo lugar, o futuro da universidade depende da implantação de um
sistema de concurso público para docentes com um regime especial. Há que se
legislar! O atual sistema tem de ser modificado.”
Outra verdade, decorrente de serem
autarquias as universidades federais. E qualquer iniciativa para tratamento
diferenciado para todas as universidades federais vai encontrar rejeição feroz
dos outros sindicatos de servidores públicos.
“Finalmente, a
indispensável inserção internacional depende de produção de alto nível. Na
universidade eficaz, em todo o mundo, isto depende de estudantes de
pós-graduação. Para isso, devem ser proibidas as chamadas teses de gaveta-
sabe-se de situações em que se orientou uma dúzia de alunos e praticamente nada
se publicou ao custo de quase um milhão de reais apenas em bolsas; pior ainda
existem ainda entre nós pessoas, até coordenador de pós-graduação, que
consideram um absurdo gastar dinheiro com pesquisa e publicar no exterior, como
se a ciência fosse compartimentada e não pertencesse à humanidade.”
Outra verdade. Somos reforçados
pelas agências de fomento pelo número de teses e dissertações que orientamos,
pela participação em bancas examinadoras, mas não há qualquer consequência para
não publicar essas teses e dissertações. Será que isso não gera uma baixa nos
critérios para aprovação das bancas examinadoras? Que tal exigir que pelo menos
um artigo seja publicado em revista de uma lista aprovada pela agência de
fomento, com os nomes dos integrantes da banca examinadora em nota de rodapé?
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