terça-feira, 8 de julho de 2014

Cognitivo é o novo mental?


         Uma piada de internet antiga ilustra bem como teorias resistem a fatos: um neurônio da periferia avisa ao cérebro que acaba de capturar um fato que pode ameaçar seriamente seu sistema de crenças e valores. O cérebro responde: Jogue fora esse fato.
Um velho amigo meu dizia de uma velha amiga: Ela não deixa nenhum fato da realidade ameaçar sua tão querida teoria.
Dois artigos recentes no New York Times abordam esse assunto:
-  Vinte e seis por cento (26%)  dos americanos com pós-graduação acreditam em alguma forma de criacionismo e rejeitam a teoria da evolução.
- Economistas ligados ao Partido Republicano previram que o programa do banco central americano (FED) de injetar trilhões de dólares na economia iria fazer a inflação disparar. Isso não aconteceu e o programa atingiu seus objetivos, em linhas gerais. É claro que os economistas não abandonaram nem mudaram sua teoria. Como o neurônio da piada jogaram fora o dado referente à inflação dizendo que estava maquiado pelo governo.
O mentalismo é um exemplo desses sistemas de crenças e valores que resistem bravamente aos apelos da realidade. Skinner chamou de radical seu behaviorismo por considerar, ao contrário de seus antecessores behavioristas metodológicos, que o que acontecia no ambiente por trás da pele deveria ser também objeto de estudo de uma ciência natural. A “atividade mental” passa a ser vista e estudada como comportamento. Abandona-se a ideia de um agente interno, a mente, única responsável pelo comportamento observável. Há, porem, um obstáculo quase intransponível para a adoção dessa nova visão: um sistema de crenças e valores característico da civilização ocidental que resiste a toda ameaça ao princípio do livre-arbítrio como explicação para qualquer comportamento. Nem analistas do comportamento que se dizem skinnerianos parecem resistir e se comportam mostrando o que Freud chamou de “displacement” ou o equivalente em alemão: se “mente” é palavra proibida, vamos falar de “cognição”. Pode ser usada como sinônimo com menor probabilidade de punição. Afinal, para um behaviorista fanático “mentalista” é palavrão.
E o que é comportamento? Ver



2 comentários:

  1. É fantástico o jeito como o senhor escreve.
    É o que eu mais vejo hoje, a maneira como as pessoas que apesar dos dados científicos serem apresentados se negam a aceitar ou simplesmente viram as costa, pois sua crença as cegam (se posso dizer dessa maneira). Aceitar como Freud apresenta a mente é a mesma coisa que rejeitar os estudos de neurofisiologia. É negar a anatomia e fisiologia do cérebro, pois quem se debruça profundamente sobre o humano sabe e vera que anatomicamente não sobra espaço pra uma mente. Não se rejeita estudos que tem bases solidas na ciência como os de Guyton e Hall.

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