Uma piada de internet antiga ilustra
bem como teorias resistem a fatos: um neurônio da periferia avisa ao cérebro
que acaba de capturar um fato que pode ameaçar seriamente seu sistema de
crenças e valores. O cérebro responde: Jogue fora esse fato.
Um velho amigo meu dizia de uma velha amiga: Ela não deixa
nenhum fato da realidade ameaçar sua tão querida teoria.
Dois artigos recentes no New York Times abordam esse assunto:
- Vinte e seis por
cento (26%) dos americanos com
pós-graduação acreditam em alguma forma de criacionismo e rejeitam a teoria da
evolução.
- Economistas ligados ao Partido Republicano previram que o
programa do banco central americano (FED) de injetar trilhões de dólares na
economia iria fazer a inflação disparar. Isso não aconteceu e o programa atingiu
seus objetivos, em linhas gerais. É claro que os economistas não abandonaram
nem mudaram sua teoria. Como o neurônio da piada jogaram fora o dado referente
à inflação dizendo que estava maquiado pelo governo.
O mentalismo é um exemplo desses sistemas de crenças e valores
que resistem bravamente aos apelos da realidade. Skinner chamou de radical seu
behaviorismo por considerar, ao contrário de seus antecessores behavioristas
metodológicos, que o que acontecia no ambiente por trás da pele deveria ser
também objeto de estudo de uma ciência natural. A “atividade mental” passa a
ser vista e estudada como comportamento. Abandona-se a ideia de
um agente interno, a mente, única responsável pelo comportamento observável.
Há, porem, um obstáculo quase intransponível para a adoção dessa nova visão: um
sistema de crenças e valores característico da civilização ocidental que
resiste a toda ameaça ao princípio do livre-arbítrio como explicação para
qualquer comportamento. Nem analistas do comportamento que se dizem skinnerianos
parecem resistir e se comportam mostrando o que Freud chamou de “displacement”
ou o equivalente em alemão: se “mente” é palavra proibida, vamos falar de
“cognição”. Pode ser usada como sinônimo com menor probabilidade de punição.
Afinal, para um behaviorista fanático “mentalista” é palavrão.
E o que é comportamento? Ver
É fantástico o jeito como o senhor escreve.
ResponderExcluirÉ o que eu mais vejo hoje, a maneira como as pessoas que apesar dos dados científicos serem apresentados se negam a aceitar ou simplesmente viram as costa, pois sua crença as cegam (se posso dizer dessa maneira). Aceitar como Freud apresenta a mente é a mesma coisa que rejeitar os estudos de neurofisiologia. É negar a anatomia e fisiologia do cérebro, pois quem se debruça profundamente sobre o humano sabe e vera que anatomicamente não sobra espaço pra uma mente. Não se rejeita estudos que tem bases solidas na ciência como os de Guyton e Hall.
ótimo texto!!
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