Abordagens psicoterapêuticas são resultado de comportamentos
sensíveis às suas consequências, como qualquer comportamento operante. São
mantidas e prosperam na medida em que seus seguidores de alguma forma agradam
os clientes, mantem-se na profissão e ganham reputação pelas indicações feitas
por ex-clientes. Por outro lado, uma fonte inesgotável de produção de “novas”
abordagens são as contingências especificadas por agências governamentais para
o apoio a “inovações tecnológicas” na área. Nos Estados Unidos editais de
agências de apoio a tais inovações costumam requerer verdadeiros pacotes, como
um nome novo, especificação de métodos e técnicas a serem empregados, tipo de
transtorno a que se destina o “pacote”, número previsto de sessões, medidas que
mostrem o efeito da terapia, etc. Esse tipo de seleção de propostas está em
efeito nos Estados Unidos há mais de 20 anos e tem gerado muitas
“tartaruguinhas”, quem sobrevivem (poucas) se conseguirem chegar ao “mar” do
mercado ou ao céu dos programas mantidos por verba do governo.
No
Brasil são muito conhecidos os casos de terapeutas analítico-comportamentais
que usam nomes de fantasia para distinguir o trabalho – não é o caso de
citá-los aqui. No geral isso é aceito porque todo exercício profissional é uma
arte, ainda que toda arte dependa de técnicas. Mas por trás de toda técnica há princípios de
alguma ciência, mesmo que a técnica tenha se desenvolvido sem apoio da ciência.
Não há problema ético quando o nome de fantasia não usa termos incompatíveis
com os princípios da ciência, como faz o ITCR, por exemplo. Mas vejo um problema sério quando misturam ciência com religião
(exemplo hipotético: psicoterapia cristã-comportamental) ou com ideologia
(outro exemplo hipotético: psicoterapia humanista-comportamental). Um problema
ético sério surge quando alguém anuncia um treinamento para uso de alguma
técnica para qualquer pessoa que se interesse por ela, como se aprender a usar
a técnica fosse tão fácil quanto aprender a fazer tricô. É o caso de certos
anúncios do “Método ABA”, para trabalhar com autistas, sem qualquer referência
à Análise do Comportamento.
Travis
Thompson, analista do comportamento conhecido por seu trabalho com autistas,
publicou um capítulo no Handbook of Classical and Operant Conditioning sobre autismo
onde apresenta claramente o desenvolvimento dos trabalhos da Análise do
Comportamento nos últimos 60 anos. Thompson adverte: “Não é ético levar pais de
autistas a acreditar que seu filho irá ter um desenvolvimento funcional igual a
seus colegas no futuro.” A Análise do Comportamento não aborda o “autismo” como
se fosse uma “doença” que precisa ser “curada”; trabalhamos com a criança com
desenvolvimento atípico como se fosse única, descobrindo com ela até onde pode
chegar. Nenhum pacote pode fazer isso.
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