Tanto o governo quanto a oposição estavam preparados para o
período pós-copa. Nos dois casos a questão é a de relações de equivalência. O
governo vinha investindo em garantir a associação entre a futura euforia
trazida pelo hexacampeonato e a imagem de sua candidata a presidente. A
oposição vinha tentando diminuir a reação positiva gerada por notícias da Copa
relativizando sua importância para um país carente de educação, saúde,
transportes, segurança, infraestrutura, etc. A goleada, tão horripilante quanto
inesperada, serviu como um intervalo para que os times políticos trocassem de
campo. Agora interessa ao governo relativizar a derrota. No mesmo dia dos 7 a 1
um conhecido petista fez um selfie com a camisa vermelha, sorridente, dizendo
não foi nada, isso passa, olha nós aqui.
Inúmeras postagens, nesse dia e nos outros, até agora, batem na mesma tecla.
Como se tivessem combinado as regras do jogo, a oposição faz o inverso,
reforçando a associação estabelecida no “primeiro tempo” pelo próprio governo
entre sua candidata e a Copa, só que agora com todos os aspectos negativos do
fracasso. Essas estratégias antagônicas poderiam ser chamadas de “Deixa pra lá”
e “Foi ela sim!”, respectivamente.
Um texto em um blog dá um bom
exemplo da estratégia “Deixa pra lá”: não vou chorar com os 7 a 1 porque a
derrota não foi minha, foi deles. Não há nada de novo nessa fuga do mal estar
provocado pela goleada, mesmo porque só quem é torcedor sente o vexame – torcer
envolve respondentes, não há papo operante que segure a dor de um 7 a 1. Essa
fuga pode até ser parte do contexto de quem curte futebol diariamente, e talvez
seja a explicação para os que só se ligam no futebol a cada quatro anos, mas
afirmar isso é não reconhecer a importância de pertencer ao grupo, de vestir a
camisa mais que figurativamente. Um exemplo de torcedor de verdade, controlado
por respondentes, é o flamenguista que contra seus pendores políticos e
ideológicos torceu contra a Argentina, pois aquela camisa da Alemanha lembra
demais o “manto sagrado” rubro-negro.
Propagandas da oposição do tipo
“Foi ela sim!” dizem que agora o futebol se igualou à educação, à saúde, à
segurança, etc.; estamos por baixo em tudo. Perdemos por 100 a 0 para a
Alemanha em número de ganhadores do Prêmio Nobel (aliás, nesse quesito perdemos
a zero também para a Argentina).
Eu pessoalmente preferiria
campanhas políticas menos manipuladoras e mais informativas, e projetos para
começar a preparar a nova seleção. O sofrimento recomeça com amistosos no
segundo semestre.
Concordo.
ResponderExcluirAcho que nenhum dos lados está fazendo um "jogo limpo".
Estou esperando a equivalência entre algum partido e a torcida japonesa.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirEu também, Todorov... muito embora os discursos antes das eleições raramente se alinhem com as práticas adotadas pós-eleições, já que, como afirmou Skinner, as contingências que selecionam os comportamentos antes das eleições são diferentes das pós o processo eleitoral. Na verdade, creio que nem precisemos fazer uma comparação contingencial de períodos diferentes, pois independente do tempo, é evidente a existência contumaz de contingências que selecionam discursos e práticas que raramente se alinham.... para além dos processos eletivos...
ResponderExcluirObrigado pela partilha dos insights e relações bem humoradas entre futebol e eleição. Ajudou-me a tomar consciência de mais alguns elementos. Apesar de jamais termos condição de elencar todos os fatores envolvidos, penso que os aspectos psicológicos foram cruciais para a derrota "gritante".
ResponderExcluirabs,