Encontram-se
na literatura sobre análise do comportamento referências ao termo autocontrole
que associam o conceito a processos os mais diversos: procrastinação,
obesidade, impulsividade em crianças, cuidados de saúde, entre vários outros.
Em outras abordagens da psicologia o termo tem vários significados: força de
vontade, capacidade para manter o equilíbrio emocional, para controlar os
impulsos, para decidir sobre a própria vida, etc.
Na linguagem
diária usamos o termo com esse sentido de força interior, compatível com as
teorias da psicologia cognitiva, mas incompatível com a análise do
comportamento, que não usa um agente interior para explicar o comportamento. É
importante notar que a análise do comportamento não trabalha só com
observáveis. Como já escrevi em outro texto:
O
que é comportamento? Tudo o que a pessoa faz que possa ser analisado, inclusive
o que ela diz, o que ela pensa, o que ela fala para si mesma, inclusive o que
ela fala sobre o que pensa.
O que penso
antes de decidir não é explicação, é parte do comportamento a ser explicado.
Como qualquer comportamento, pensar é escolha, examinar as alternativas não
ocorre no vácuo.
Autocontrole não é conceito da análise do
comportamento. Esse “auto” sempre vai ter conotação mentalista. Muitos dos exemplos
citados são processos diferentes, envolvendo diferentes variáveis. Se vamos
incluí-los na rubrica “autocontrole”, então todo comportamento operante é
exemplo de “autocontrole”.
Não
postulamos forças interiores maiores ou menores para explicar essas escolhas.
Como bem escreveu Baum recentemente, o organismo é o local onde ocorrem as interações
comportamento-ambiente. E é isso que estudamos, experimentalmente ou não. Todos
os experimentos que dizem estudar o autocontrole no laboratório usam algum
procedimento de escolha entre pelo menos duas variáveis. Não há como fugir da
literatura sobre escolhas e preferências dos últimos 60 anos alegando implícita
ou explicitamente que “com gente é
diferente”
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