Para
o behaviorista um assunto muito rico e interessante é o uso de termos e
conceitos por outros psicólogos quando oferecem explicações para
comportamentos. Reconhecer que não temos resposta para uma questão é tão
importante quanto saber a resposta; se não reconhecemos a ignorância fica
difícil sair dela. É melhor ficar sem resposta para uma pergunta quando não se
tem certeza da resposta. Isso vale tanto para o pesquisador estudando um
fenômeno quanto para o profissional atendendo um cliente. A Análise do
Comportamento não é uma teoria acabada, é um modo de buscar respostas. Ideias,
conceitos e teorias, como resultados de comportamento humano, estão sempre submetidos
ao processo de seleção por consequências, inclusive a teoria skinneriana dos
três níveis de seleção por consequências.
Com
certa frequência faz-se menção à Análise do Comportamento como Análise
Experimental do Comportamento, um método, uma área, uma filosofia, uma
tecnologia (por exemplo, o “método ABA” para o tratamento do autismo). Essa
prevalência da parte sobre o todo se deve provavelmente a uma ênfase na
experimentação. Supõe-se que o analista do comportamento manipula alguma
variável independente e observa cuidadosamente o efeito em alguma medida do
comportamento. A Análise do Comportamento tem alguns pontos muito distintos de
outros que prosperam na psicologia, como pesquisas de laboratório animal com
análise experimental do comportamento de indivíduos (n = 1) – mas não se resume
apenas à análise experimental do comportamento de indivíduos, nem no
laboratório, nem no consultório clínico. Sua marca mais distinta é a linguagem
teórica, o cimento que une todos os tipos de atividades compreendidas sob essa
rubrica, marca, ou o que seja.
Experimentação com n = 1 é a grande
contribuição de Skinner para a psicologia experimental dos anos 30 do século
passado. Trouxe de seus estágios nos principais laboratórios de biologia de
Harvard. Junto com a taxa de respostas por unidade de tempo e os esquemas de
reforço intermitente, forma o trio de ouro de Skinner. Mas nem ele ficou só na
análise experimental do comportamento de organismos individuais (n = 1). Logo
de início em Ciência e Comportamento
Humano Skinner mostrou como se
pode avançar analisando exemplos da vida diária à luz da teoria. E é essa
teoria, que começa a ser desenvolvida em O
Comportamento dos Organismos (1938) e continua sendo desenvolvida até hoje,
e continuará a ser desenvolvida pelas futuras gerações, a teoria que faz a
conexão entre os diferentes campos de atuação da Análise do Comportamento:
pesquisa básica, pesquisa aplicada, atuação profissional, análise funcional,
análise conceitual, etc.
A Análise do Comportamento é mais do
que análise experimental. Ao escrever sobre o comportamento humano Skinner
(1953) foi muito claro a esse respeito. Parafraseando Skinner, descrevo a Análise
do Comportamento como um conjunto de atitudes, uma disposição para estudar
comportamentos ao invés de lidar com o que alguém disse sobre o comportamento,
uma vontade de aceitar os fatos sobre o comportamento mesmo quando esses fatos
se opõem aos nossos desejos, uma disposição para ficar sem uma resposta até que
uma satisfatória seja encontrada. É uma busca de ordem, de uniformidades, de
regularidades, de relações funcionais entre ambiente e comportamento (Skinner,
1953, pp. 12-13). Uma ciência do comportamento trabalha com informações
provenientes de várias origens: observações casuais, observação de campo
controlada, observações clínicas, observação em instituições sob condições
rigidamente controladas, e estudos de laboratório (Skinner, 1953, p. 37).
Qualquer que seja a área, o
objetivo, o método, o analista do comportamento trabalha com alguns conceitos
básicos, suas ferramentas de ofício. O primeiro é o de contingência. Uma
contingência é uma relação condicional entre eventos no ambiente afetando
comportamentos respondentes, ou entre eventos no ambiente e comportamentos
operantes. No laboratório o pesquisador controla e manipula contingências; na
prática profissional o analista do comportamento identifica, analisa, modifica,
ou ensina seu cliente a identificar, analisar e modificar contingências. O
analista do comportamento reconhece que um estímulo pode ter múltiplas funções,
como ser eliciador de respostas reflexas, reforçador (quando consequente) ou
discriminativo (quando antecedente) de respostas operantes, e reconhece o poder
multiplicador e o controle exercido por abstrações derivadas de contingências
quádruplas bem como o papel de operações motivadoras e estabelecedoras.
E o comportamento, o que é? O que é
comportamento? Tudo o que a pessoa faz que possa ser analisado, inclusive o que
ela diz, o que ela pensa, o que ela fala para si mesma, inclusive o que ela
fala sobre o que pensa.
Muito boa a descrição de como reconhecer um analista do comportamento. Acredito até q temos um olhar privilegiado de ver e de estar no mundo, ou pelo menos, deveríamos ter!!!
ResponderExcluirObrigado. Espero que o texto ajude uma aproximação maior entre os pesquisadores e os que praticam a profissão.
ExcluirSimplesmente fántastico seu texto Todorov, você coloca o analista do comportamento em uma posição privilegiada, de muitas qualidades e sensibilidade,a observação é a chave para uma boa análise funcional. Obrigada pelas contribuições literárias, um dia quero assistir sua palestra!!!
ExcluirTexto maravilhoso, sintético e irretocável. Obrigada por existir para a Análise do Comportamento brasileira, prof. Todorov!
ResponderExcluirObrigado, Aline. Se vocês continuarem a me reforçar vou continuar publicando!
Excluir"se não reconhecemos a ignorância fica difícil sair dela. É melhor ficar sem resposta para uma pergunta quando não se tem certeza da resposta." Todorov, me tornei seu seguidor! Muito bom texto.
ResponderExcluirAcho que você vai gostar de outra postagem no meu blog na qual tratei da felicidade dos que não sabem que não sabem!
ExcluirOlá, gostaria de saber qual o nome deste texto que o senhor está falando.
ExcluirTalvez seja "O peixe, o curral e a guerra".
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirMuito bom Prof. João Claudio! Seus textos são ótimos!
ResponderExcluirObrigado, Amanda.
ExcluirMuito bom! Grifei o seguinte trecho: "A Análise do Comportamento não é uma teoria acabada, é um modo de buscar respostas. Ideias, conceitos e teorias, como resultados de comportamento humano, estão sempre submetidos ao processo de seleção por consequências, inclusive a teoria skinneriana dos três níveis de seleção por consequências."
ResponderExcluirPois é, nada de achar que ler Skinner te dá todas as respostas. É bom ler procurando perguntas ainda não respondidas.
ExcluirIsto deveria ser um mantra entre os analistas...rs...Enviarei seu texto aos amigos analistas como gift professor! Congrats! excelente síntese! bom texto como sempre!
ResponderExcluirObrigado, Louise. Apareça nas discussões de sexta feira.
ExcluirÓtimo.
ResponderExcluirObrigado, Fabiane.
ExcluirAdoro os textos... Claros, precisos e muito esclarecedores.
ResponderExcluirAs contribuições do Prof. Todorov, como sempre, são valiosas. O fragmento abaixo nós convoca a uma reflexão crítica sobre os limites de nossa atuação. Parabéns pelo texto Professor.
ResponderExcluir...Reconhecer que não temos resposta para uma questão é tão importante quanto saber a resposta; se não reconhecemos a ignorância fica difícil sair dela. É melhor ficar sem resposta para uma pergunta quando não se tem certeza da resposta...
Obrigado pelo ótimo texto, professor! Didático, conciso e instigante! Parabéns!
ResponderExcluirOlá professor,
ResponderExcluirGostei bastante do seu texto “Como reconhecer um analista do comportamento”. A postura de rechaçar qq tentativa de investigação que não siga os cânones da AEC (sujeito único, sem análise estatística, método experimental, etc.) atrapalha muito a área fazendo que nos isolemos desnecessariamente de outros pesquisadores que investigam temas semelhantes com bases teóricas compatíveis. Esbarrei nessa questão ao estudar o conceito de personalidade na monografia da Rafaela: há muita pesquisa na área que, embora utilize métodos diferentes, chegam a resultados plenamente compatíveis com a AC. O mesmo acontece nas áreas de pesquisa em Emoção e no estudo de Fenômenos Sociais. Atualmente estou trabalhando junto a Psicologos Sociais no centro de Julgamento e Tomada de Decisão da Tilburg University e vejo que é muito mais fácil encontrar citações behavioristas (Hernnstein, Rachlin, Skinner, etc) em artigos deles do que o contrário.
Um grande abraço e parabéns por levantar essa discussão.
Muito bom texto!
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirExcelente texto professor Todorov, eu como iniciante no estudo da Análise do Comportamento, sempre recorro aos seus textos para aprofundar meus conhecimentos.
ResponderExcluirObrigado por compartilhar sua sabedoria conosco. A comunidade agradece.
Vou usar esse texto em futuras discussões iniciais com meus alunos em minhas disciplinas.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirSempre que eu leio os textos que o senhor escreve me faz sentir mais admiração e gostar mais de Análise do Comportamento e sinto muita honra de saber que o senhor foi coordenador do meu curso no Iesb e aproveitando pra dizer q o senhor faz falta!! Há e sempre olho as suas publicações no facebook, sou sua seguidora online rsrsrs Sucesso sempre professor!
ResponderExcluirProf.Todorov!
ResponderExcluirÉ muito bom poder contar com as suas contribuições para nossa ciência e aprendizado.
Muito bom, Prof. Todorov!
ResponderExcluirClaro e conciso.
Adorei, Prof. Todorov!
ResponderExcluirAbraços!
Excelente texto professor, vou imprimir e distribuir aos meus alunos... E divulgar!
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirGostei desta parte , Uma contingência é uma relação condicional entre eventos no ambiente afetando comportamentos respondentes, ou entre eventos no ambiente e comportamentos operantes.
ResponderExcluirTODOROV. O que achei mais interessante foi a maneira poética com que ele conseguiu explicar descritivamente algo sintético. Uma leitura reforçadora!
ResponderExcluirObrigado, Danilo. Procuro escrever pensando no aluno de primeiro semestre.
Excluirótimo texto,é uma síntese da teoria e da técnica comportamental.
ResponderExcluirAmei.. vou usar na minha aula para revisar e esquentar.. :) Obrigada professor.. :)
ResponderExcluirAmo esse texto. Leio sempre porque me inspira, esse e o do Papa. Obrigada por compartilhar, Todorov
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