Estas
respostas às perguntas frequentemente encontradas no Facebook foram escritas e
largamente divulgadas semanas antes da reunião anual da ABPMC. A mudança no
estatuto da ABPMC ocorreu em assembleia que se reuniu em Fortaleza,
incorporando vários aspectos do estatuto da Associação Brasileira de Análise do
Comportamento. A seguir a íntegra das respostas que escrevi.
1-
A apresentação da proposta de uma nova Associação pegou todos de
surpresa. Qual o cenário que os motivou a propor uma nova Associação?
Pegou de surpresa quem não
acompanhou o trajeto da ABPMC ao longo dos últimos 22 anos. A ABPMC cresceu com
uma reunião anual, a publicação dos anais em forma de livro na bem sucedida
coleção Sobre Comportamento e Cognição, e na publicação da Revista Brasileira
de Terapia Comportamental e Cognitiva. Os títulos dos livros e da revista
bastam para mostrar que a ABPMC era e é uma associação mais ampla que uma de
analistas do comportamento. Há vinte e dois anos que a maioria de analistas do
comportamento colabora para o fortalecimento da terapia cognitiva e outras
abordagens não-comportamentalistas.
2-
A proposta apresentada pelos senhores não poderia ser
contemplada pela ABPMC? Por que então uma nova associação?
Poderia ser se não fosse o que
é. Com a obrigação da reunião anual e as publicações e sem estrutura
profissional não sobram tempo nem recursos para a diretoria desenvolver as
atividades previstas no estatuto da ACBr, uma associação exclusiva, de e para
analistas do comportamento.
3-
Há quanto tempo os senhores têm discutido a proposta da ACBr?
Porque só agora, às vésperas do conhecido evento da ABPMC?
Pelo menos desde maio de 2003
quando a ABAI se preparava para fazer no Brasil seu congresso internacional em
2004. De lá para cá a ABPMC recusou-se a se relacionar formalmente com a
entidade internacional (que só aconteceu por esforço pessoal de Martha Hubner),
recusou a proposta de divisões regionais, e continuou a ser principalmente uma
associação de terapeutas, comportamentais ou não. Enquanto isso o campo de atuação profissional
do analista do comportamento é invadido por pessoas sem formação que se dizem
especialistas. Três reuniões para tratar do assunto que aconteceram no primeiro
semestre deste ano nos convenceram que a ABPMC, por sua composição e sua
história, nunca seria uma associação só e para analistas do comportamento,
psicólogos ou não.
4-
Nas redes sociais foi aventado que a estruturação da ACBr não
teve transparência. O que os senhores têm a dizer aos nossos leitores?
Um anúncio da intenção foi
amplamente divulgado. A receptividade ao anúncio levou à elaboração, aprovação
e publicação dos estatutos com regras claras para associação de interessados.
Eleitos uma diretoria e conselho uma assembleia pode ser convocada para
ratificar ou retificar esses estatutos. Quem acha que é mais transparente e
democrático convocar primeiro uma assembleia e nela começar a pensar os
estatutos pode tentar esse caminho.
5-
Porque foram escolhidos somente cinco “figuras” ou
“personalidades” para discutir um estatuto que representará toda uma
comunidade?
A pergunta é ofensiva. Os
analistas do comportamento que aceitaram a tarefa foram escolhidos por sua
experiência e competência e não merecem ser desmerecidos por termos como
“figuras” e “personalidades”. Além de ofensiva é equivocada. Que comunidade? A ABPMC não representa mais que a comunidade
de seus associados (behavioristas ou não). A ACBr só vai falar em nome de seus
associados (analistas do comportamento). A pergunta se refere a qual
comunidade? Uma potencial que incluiria todos os que anunciam inserindo a
palavra ”comportamental” em seus anúncios, como se vê em sites na internet do
tipo “Fulano, analista do comportamento, especialista em terapia
cognitivo-comportamental”?
6-
No início havia um representante das práticas analítico
comportamentais aplicadas à educação especial. Esse representante saiu da
comissão e não foi reposto outro representante. No estatuto é possível observar
que não há mais essa representação. O contexto inicial dessa representação
esteve ligado à discussão sobre certificação de analistas do comportamento? Se
sim, porque essa representação foi retirada do estatuto aprovado?
Porque a ACBr é associação de
analistas do comportamento, não só dos que trabalham com educação especial.
Estava porque foi colocada por alguém que trabalha com autismo e foi retirada
porque seria muito extenso colocar todos os outros campos de atividade do
analista do comportamento.
7-
Há alguma “rixa” entre os proponentes da ACBr e a diretoria da
ABPMC? O que houve nos bastidores para que os senhores propusessem a ACBr?
Não há rixa. Somos todos
associados da ABPMC e da SBP. Alguns são Conselheiros. das duas associações.
Falamos a mesma língua nos bastidores e no palco. Divergências não têm que
levar a inimizades.
8- Na opinião dos senhores a principal oposição da ABPMC em relação
à ACBr seria em relação à certificação de analistas do comportamento?
Não. Essa questão foi colocada
pela ABPMC na reunião de Salvador. Não há como saber de que maneira a
assembleia da ACBr eventualmente vai se
manifestar sobre isso. É uma questão muito mais delicada que envolve uma
disposição latinoamericana de evitar um controle americano do credenciamento no
mundo.
9-
Alguns acreditam que uma Associação restritiva iria enfraquecer
a representatividade da Análise do Comportamento no cenário nacional. O que os
senhores pensam sobre essa crítica? Isso não poderia gerar uma versão
brasileira da Análise do Comportamento?
Não. Só vai aumentar a
representatividade e a força política. Quantas associações se originaram na
ABPMC e se tornaram independentes sem prejudicar seu futuro? Só de Campinas foram duas. A Associação
Brasileira de Terapia Cognitiva é outra. A ACBr vem fortalecer a análise do
comportamento e, por tabela, a ABPMC enquanto ela for também de analistas do
comportamento.
Uma análise do comportamento
versão brasileira é aquela desenvolvida por quem só publica em português, só lê
textos em português de quem não acompanha o que acontece no mundo. Não é o caso
da ABPMC nem será o caso da ACBr.
11-
No passado houve uma associação de análise do comportamento
brasileira, mas a ideia ruiu. Porque os senhores acreditam que nesse momento, a
nova associação irá ser replicada?
A ACBr não se responsabiliza
pelo que aconteceu há mais de vinte anos. Por que a ABPMC matou a ABAC?
Perguntem a quem estava lá.
12-
É de conhecimento geral que há dificuldades no estabelecimento
de grupo diretor, as grandes personalidades da análise do comportamento
normalmente não se comprometem com o volume de trabalho em tocar uma
associação, ABPMC sofre desse mal. Isso também não ocorrerá com a ACBr?
Vejam a diferença na estrutura
diretiva determinada pelos estatutos. A ABPMC nasceu como uma reunião anual,
informal, de modificadores do comportamento. Sem sede, sem contador, sem livro
caixa, sem CNPJ. Os auxílios à FAPESP eram pedidos por pessoa física, um
pesquisador que depois prestava conta. O processo de formalização da ABPMC é
recente e comprova como práticas culturais estabelecidas são resistentes à
mudança.
13-
Houve grande comoção nas redes sociais em relação à proposta,
muitos apareceram para se posicionar como se estivessem em defesa da ABPMC. O
que os senhores acham que motivaram essas pessoas, porque tanta comoção diante
de uma proposta como a da ACBr?
Porque importantes
personalidades históricas da ABPMC se sentiram ameaçadas e levaram sua
inquietação para a internet. Só o tempo vai acalmar os respondentes eliciados
pelo lançamento da ACBr. Foi o que aconteceu na SBP quando a Associação de
Modificação do Comportamento (Precursora da ABAC e da ABPMC) foi criada há
décadas.
14-
Constantemente é discutido nas redes sociais que a ACBr ou seus
proponentes deveriam discutir a nova associação no evento da ABPMC, mas os
senhores declinaram dos constantes convites. Porque não discutir a ACBr durante
o evento da ABPMC?
Porque não se trata de criar
divisão ou departamento da ABPMC. Discute-se a criação de nova associação com
quem quer associar-se. Como queremos continuar trabalhando em conjunto,
anunciamos a criação da ACBr em correspondência formal aos Presidentes da SBP e
da ABPMC.
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