Venho usando
animais em pesquisas há quase 50 anos. Meu primeiro rato não tinha nome, a
tarefa era obrigatória em disciplina obrigatória e eu já estava estagiando no
que me interessava, organizações. Mas o rato sem nome e eu nos demos tão bem
que fui convidado para monitor da disciplina, seguido por um convite para ser
instrutor na nova Universidade de Brasília.
Ainda na USP batizei meu segundo rato
de Brasilino. Estava preparando um encadeamento de 22 passos para uma
demonstração para alunos da UnB. O Brasilino e seu equipamento seriam levados
para Brasília no primeiro semestre de 1963, mas como sempre acontece nossa
mudança só ocorreu em maio de 1964. Em um mês o novo rato, Brasilino II, foi
preparado para uma exibição na reunião de Ribeirão Preto da SBPC. Viajamos
juntos de Brasília para Ribeirão, ida e volta, o Brasilino II levando seu equipamento para exibições públicas. Os
Brasilinos I e II ajudaram a introduzir a Análise do Comportamento no Brasil.
Trabalhei muito com pombos e ratos em
pesquisas que são citadas até hoje, em áreas como comportamento e contexto
(comportamento é escolha, escolha é comportamento), generalidade das leis da
aprendizagem ( a priori nenhuma aprendizagem é impossível) e parâmetros de
estimulação aversiva (que até hoje servem para balizar o uso ético em
pesquisas). São pesquisas básicas que subsidiam o desenvolvimento de
estratégias para os trabalhos aplicados aos problemas humanos. Só negam essa
importância aqueles que não aceitam a continuidade de processos comportamentais
na escala evolutiva; os criacionistas, por exemplo.
Por outro lado, há analistas do
comportamento que são contrários ao uso de animais no ensino. Provavelmente são
os que usam estratégias, métodos e técnicas sem saber como se desenvolve a
teoria, e os que trabalham em instituições que não estão dispostas a investir
em equipamento e custeio. Esses professores, quando vão a congressos, costumam
ser assediados pelos donos e vendedores de softwares que substituem os ratos
vivos por ratos virtuais. Para fins de ensino, é o equivalente aos cursos que
ensinam estudantes de enfermagem a dar injeção em laranjas.
A intenção de evitar sofrimento
desnecessário aos animais é louvável, por isso temos os comitês de ética na
pesquisa para examinar projetos. Só não vale hipocrisia. Nem acusar os colegas
de torturadores hipócritas. Comer bife ou frango assado sem se preocupar com as
condições de criação e de matadouros e abatedouros e reclamar do uso de animais
em pesquisa e ensino é hipocrisia. E comer baby beef e vitela é apoiar o infanticídio...
Caro João Claudio, achei muito apropriada sua colocação sobre esse assunto hoje tão polemico. Parabéns.
ResponderExcluirMinha turma foi a última na minha faculdade a ter AEC !!!Meu ratinho era um espetáculo, se chamava Skinner II, foi substituído pois o I ficou doente!!!!Depois o que aconteceu?? Laboratório fechado, caixas de Skinner no lixo, e dão um ''jeitinho brasileiro" de dar AEC para os outros alunos, que no lugar dessa matéria estudam Psciologia Cognitiva, parece que estão cismados na minha universidade a que AC está morrendo, que a Psi cognitiva veio substituir a AC e a AEC! Fico pensando se o MEC não fiscaliza isso, pois para mim isso é mascarar uma realidade! Muito bom texto Professor!!
ResponderExcluir