quinta-feira, 24 de outubro de 2013

USO DE ANIMAIS EM PESQUISA E ENSINO E HIPOCRISIAS

Venho usando animais em pesquisas há quase 50 anos. Meu primeiro rato não tinha nome, a tarefa era obrigatória em disciplina obrigatória e eu já estava estagiando no que me interessava, organizações. Mas o rato sem nome e eu nos demos tão bem que fui convidado para monitor da disciplina, seguido por um convite para ser instrutor na nova Universidade de Brasília.
         Ainda na USP batizei meu segundo rato de Brasilino. Estava preparando um encadeamento de 22 passos para uma demonstração para alunos da UnB. O Brasilino e seu equipamento seriam levados para Brasília no primeiro semestre de 1963, mas como sempre acontece nossa mudança só ocorreu em maio de 1964. Em um mês o novo rato, Brasilino II, foi preparado para uma exibição na reunião de Ribeirão Preto da SBPC. Viajamos juntos de Brasília para Ribeirão, ida e volta, o Brasilino II levando  seu equipamento para exibições públicas. Os Brasilinos I e II ajudaram a introduzir a Análise do Comportamento no Brasil.
         Trabalhei muito com pombos e ratos em pesquisas que são citadas até hoje, em áreas como comportamento e contexto (comportamento é escolha, escolha é comportamento), generalidade das leis da aprendizagem ( a priori nenhuma aprendizagem é impossível) e parâmetros de estimulação aversiva (que até hoje servem para balizar o uso ético em pesquisas). São pesquisas básicas que subsidiam o desenvolvimento de estratégias para os trabalhos aplicados aos problemas humanos. Só negam essa importância aqueles que não aceitam a continuidade de processos comportamentais na escala evolutiva; os criacionistas, por exemplo.
         Por outro lado, há analistas do comportamento que são contrários ao uso de animais no ensino. Provavelmente são os que usam estratégias, métodos e técnicas sem saber como se desenvolve a teoria, e os que trabalham em instituições que não estão dispostas a investir em equipamento e custeio. Esses professores, quando vão a congressos, costumam ser assediados pelos donos e vendedores de softwares que substituem os ratos vivos por ratos virtuais. Para fins de ensino, é o equivalente aos cursos que ensinam estudantes de enfermagem a dar injeção em laranjas.
         A intenção de evitar sofrimento desnecessário aos animais é louvável, por isso temos os comitês de ética na pesquisa para examinar projetos. Só não vale hipocrisia. Nem acusar os colegas de torturadores hipócritas. Comer bife ou frango assado sem se preocupar com as condições de criação e de matadouros e abatedouros e reclamar do uso de animais em pesquisa e ensino é hipocrisia. E comer baby beef e vitela é apoiar o infanticídio...

 

2 comentários:

  1. Caro João Claudio, achei muito apropriada sua colocação sobre esse assunto hoje tão polemico. Parabéns.

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  2. Minha turma foi a última na minha faculdade a ter AEC !!!Meu ratinho era um espetáculo, se chamava Skinner II, foi substituído pois o I ficou doente!!!!Depois o que aconteceu?? Laboratório fechado, caixas de Skinner no lixo, e dão um ''jeitinho brasileiro" de dar AEC para os outros alunos, que no lugar dessa matéria estudam Psciologia Cognitiva, parece que estão cismados na minha universidade a que AC está morrendo, que a Psi cognitiva veio substituir a AC e a AEC! Fico pensando se o MEC não fiscaliza isso, pois para mim isso é mascarar uma realidade! Muito bom texto Professor!!

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