quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Modelos experimentais de interações comportamento-ambiente: ansiedade, psicopatologia, autocontrole, etc.


                Analisar experimentalmente qualquer interação significa isolar para observação em laboratório essa interação (se possível), mantendo constantes variáveis potencialmente importantes, para identificar quais alterações possíveis naquele ambiente são importantes componentes da interação. Um modelo experimental clássico é o usado por W. K. Estes e B. F. Skinner, publicado em 1941 no Journal of Experimental Psychology:  “Some quantitative properties of anxiety”. Ratos trabalhavam em esquema de reforço positivo intermitente, mas de vez em quando um som era ligado segundos antes de um choque inevitável nas patas. No comportamento humano, ansiedade é um termo usado para descrever o comportamento em situações que sinalizam estímulos aversivos inevitáveis, mas isso não esgota o significado do termo quando aplicado a humanos. Seria mais adequado evitar o rótulo “modelo experimental de ansiedade” para o procedimento de Estes e Skinner. O procedimento estuda efeitos de estímulos associados a estimulação aversiva inevitável sobre o comportamento operante. E só. Daí para a frente entra a teoria e as interpretações que podem ser feitas, a partir de dados experimentais, observações na clínica, no ambiente natural, etc. como fez Ferster com a depressão (Ferster, 1973; veja abaixo link para o artigo).

Um problema nesta relação laboratório-clínica reside na ausência de clareza na comunicação. Muitas vezes usamos o mesmo nome para designar eventos ou processos diferentes. Em trabalho que deve ser publicado ainda este ano um conjunto de autores procura diminuir a confusão reconhecendo as diferenças entre conteúdo, processo e procedimento. Falamos de ansiedade como conteúdo quando descrevemos queixas de uma pessoa, falamos como processo quando interpretamos as observações à luz da teoria, e falamos como procedimento quando preparamos um ambiente experimental para estudar o papel de diversas possíveis variáveis importantes nesse processo.

Uma curiosidade: Ex-aluno de Skinner, Estes veio a ser um dos expoentes da Psicologia Cognitiva. 










Estes, W. K., & Skinner, B. F. (1941). Some quantitative properties of anxiety. Journal of Experimental Psychology, 29(5), 390.
Ferster, C. B. (1973). A functional analysis of depression. American Psychologist, 28(10), 857-870.


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