Aconteceu
de um analista do comportamento em organizações ser procurado por um pai de
autista depois de uma palestra e ser surpreendido com a manifestação de
surpresa: “Não sabia que o ‘Método ABA’ se aplica também a empresas! ”.
Isso
já acontece em algumas regiões dos Estados Unidos. O sucesso da Análise Comportamental
Aplicada (ABA da sigla em inglês) no tratamento de crianças com diagnóstico de
Síndrome do Espectro Autista é tal que o grande público, que não conhecia a
Análise Comportamental Aplicada, tende a usar, sem o saber, uma figura de
linguagem. Dá-se ao que está contido, um procedimento específico, o nome da
disciplina que o contém. Foi um recurso
publicitário útil quando os trabalhos pioneiros começaram a ser conhecidos e a
ACA (ou ABA, que soa melhor) já era conhecida, “Ciência e Comportamento Humano”
já era encontrado em livrarias de shopping, e livros como “O que a baleia Shamu
me ensinou sobre o amor e casamento” era vendido até em livrarias de aeroporto.
Em
ciência, ninguém inventa nada. Revelação é área da religião. Inovações em qualquer
área dependem do estado do conhecimento na época. O nome de Lovaas é o mais
associado às origens do “Metodo ABA” por seu pioneirismo e persistência, mas
não inventou os princípios que fundamentaram seu procedimento.
Transcrevo aqui a tradução de Ana
Arantes de um texto de James Todd sobre Lovaas e as origens de seu trabalho.
Pode ser visto na íntegra no endereço
http://scienceblogs.com.br/ensaios/2010/10/memorial_a_ivar_lovaas_como_na/
“Quanto à
Análise do Comportamento Aplicada (Applied Behavior Analysis, ou a conhecida
sigla ABA), Lovaas não a inventou. Pode-se argumentar que Skinner a inventou,
ao menos conceitualmente, em seu romance de 1948, Walden Two. A contribuição
especial de Lovaas foi mostrar que é possível, com a aplicação integral e
intensiva de princípios da teoria da aprendizagem, tratar efetivamente, e de
forma eficaz, o autismo como um todo, em um número considerável de indivíduos,
ou ao menos levar melhorias substanciais para aqueles que não alcançam
totalmente os benefícios do tratamento. Por “eficaz” e “substanciais”
entende-se que cerca de metade das crianças submetidas às intervenções ABA
obtêm desempenho dentro dos limites “normais” em certos testes padrão. Em
termos práticos, isso significa que essas crianças são capazes de frequentar a
escola sem apoio especial. Antes que Lovaas fizesse isso, já havia provas
científicas suficientes que mostravam que a ABA podia ser utilizada efetivamente
para aspectos específicos de autismo.
A ABA ainda era bastante jovem
quando Lovaas usou o método pela primeira vez para tentar criar um tratamento
global para o autismo, na década de 1960. Mas, antes de Lovaas, começando na
década de 1950, o trabalho reconhecido como ABA foi aplicado a todos os tipos
de problemas de comportamento, tipicamente em pessoas com deficiência de
desenvolvimento e esquizofrenia e geralmente em laboratórios e instituições.
Grandes programas dedicados à Análise Comportamental Aplicada, como o
Departamento de Desenvolvimento Humano e Vida Familiar (Department of Human
Development and Family Life, HDFL) da Universidade do Kansas, foram
estabelecidos na década de 1960. O HDFL é hoje o Departamento de Ciências do
Comportamento Aplicadas. O Journal of Applied Behavior Analysis foi fundado em
1968, quase 20 anos antes de Lovaas publicar seu artigo seminal, em 1987,
“Tratamento comportamental e funcionamento educacional e intelectual normal em
jovens crianças autistas” (Behavioral Treatment and Normal Educational and
Intellectual Functioning in Young Autistic Children), no Journal of Consulting
and Clinical Psychology. Assim, ao contrário de praticamente todos os
“tratamentos” para o autismo de que temos ouvido falar, ABA não é um novo “método”
esperando alguém para fazer um estudo e descobrir se ele funciona em tudo.
Intervenções ABA para problemas específicos de comportamento foram baseadas
diretamente em princípios descobertos e comprovados em laboratórios
comportamentais. Intervenções ABA abrangentes são construídas à partir de
tratamentos mais direcionados, que já demonstraram eficácia. ABA não está
esperando para entrar em todas as revistas científicas, ela vem de todas as
revistas científicas. A pergunta típica não é o quanto a intervenção irá
funcionar – esta é a parte fácil – mas se esta pode ser efetivamente aplicada
no mundo real, com todas as complicações que o mundo real traz. ”
Mas, antes de Lovaas, não havia
sido estabelecida ainda a possibilidade de efetivamente tratar o autismo como
um todo através da criação de um programa abrangente de intervenções ABA.
Agora, o termo ABA é muitas vezes incompreendido como significando apenas o que
Lovaas fez – sua “terapia de tentativa discreta”, por exemplo – mas “ABA”
realmente significa muito mais. O que é ABA? Citando livremente algo que eu
escrevi para uma outra finalidade, podemos definir como ABA:
“O uso sistemático de princípios de
aprendizagem cientificamente estabelecidos, técnicas de condicionamento
comportamental e modificações ambientais relacionadas para criar terapias
baseadas em evidências, comprovadamente eficazes e humanas, com o objetivo
principal de estabelecer e reforçar habilidades de vida independente,
socialmente funcionais e importantes. “
Na prática, uma
análise comportamental aplicada utiliza técnicas baseadas na teoria da
aprendizagem para modelar comportamentos novos e importantes em indivíduos com
determinados excessos ou déficits comportamentais. Intervenções realizadas por
analistas do comportamento geralmente incluem os seguintes componentes:
• Uma análise baseada em dados
funcionais das condições responsáveis pelo comportamento problema.
• Objetivos e metas de tratamento
específicos e verificáveis.
• Um plano bem definido usando os
princípios da teoria de reforço para atender as metas e objetivos.
• Uma coleta de dados contínua para
mostrar que a intervenção foi realmente a responsável pelos ganhos do
tratamento.
• Um plano para garantir a
generalização e a manutenção dos ganhos do tratamento.
• Medidas para garantir a validade
social dos objetivos e metas do tratamento, e para assegurar que todos os
envolvidos possam contribuir de forma substancial e construtiva para a melhoria
de suas habilidades ao máximo de sua capacidade. ”
Muito bom.
ResponderExcluirObrigado. Agradeço se compartilhar.
ExcluirMuito bom Professor. Já compartilhei. Informação que precisa ter grande alcance.
ResponderExcluirPrecisamos sensibilizar os colegas para a importância de participar do esclarecimento do público.
ExcluirExcelente Texto, João Cláudio! Vou pedir licença para compartilhar ;-)
ResponderExcluirCompartilhe, por favor. Sua palavra é muito importante.
ExcluirMaravilha de texto! Estava mesmo precisando de um texto com esse esclarecimento.
ResponderExcluirPois então, entre na campanha do esclarecimento.
ExcluirTexto incrível, muito esclarecedor!!!
ResponderExcluirObrigado, Gisele. Compartilhe para ajudar na campanha.
ExcluirObrigada pela citação, Professor! Esse textinho do Todd é bem bacana, né? Precisamos divulgar mais a área... Abração!!!
ResponderExcluirObrigado, Ana. Conto com vocês de São Carlos para essa divulgação.
ExcluirPerfeito professor, a partir disso podemos ampliar a nossa rede de conhecimento dá Análise do comportamento aplicada e voltar para as origens do ABA.
ResponderExcluirCerto Braian. Um abraço.
ExcluirAmei o texto muito esclarecedor, parabéns Todorov.. Vou compartilhar sim!!!
ResponderExcluirGrande Mestre! Muito obrigada!
ResponderExcluirEsclarecedor! Compartilhando ... Obrigado Professor!
ResponderExcluirBom conhecer esse blog!!
ResponderExcluirObrigada Professor!!
Muito esclarecedor professor Todorov!
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