domingo, 2 de agosto de 2015

Testes na previsão de comportamentos.


Há uma tendência cristalizada no senso comum, em nossa linguagem do diaadia, de explicar as coisas por sua estrutura. Muitas vezes essa tendência nos leva, porém, a usar o adjetivo (que descreve um comportamento) a ser usado como explicação do comportamento. Dizemos que a criança resolve rapidamente o problema porque é inteligente; que o motorista responde rispidamente ao passageiro porque é grosseiro; que a recepcionista sorri para todos os clientes porque é alegre; que alguém trabalha horas em um quebracabeça porque é persistente.

Adjetivos como esses são úteis para a psicologia apenas no sentido de que a melhor previsão do comportamento é aquela baseada em informações sobre o comportamento em condições semelhantes no passado. Um teste de habilidades mecânicas nos dá uma amostra de comportamentos que pode nos ajudar a selecionar melhor candidatos para uma função que vai exigir habilidades mecânicas no futuro; é perda de tempo, porém dizer que os melhores desempenhos no teste são devidos a alta inteligência mecânica. Isso seria explicar o comportamento pela descrição desse mesmo comportamento.

Testes psicológicos costumam ser inventários de respostas, as quais são atribuídas a classes, e, a partir da frequência relativa de certos comportamentos relatados, as pessoas recebem certos rótulos, sejam eles testes de atitudes, de opiniões ou de desempenho. Mas, como disse Skinner (1953/2000), infelizmente o comportamento é complexo, e sua explicação requer uma análise funcional. As habilidades mecânicas de um candidato ao vestibular do curso de engenharia podem ser resultado da herança genética, do ambiente no qual se desenvolveu quando criança e do ambiente com o qual interage agora – alguma combinação imensurável desses três fatores.

Como não conseguimos observar e determinar as causas em cada caso usamos os efeitos para prever outros efeitos; usamos observações de comportamentos para prever outros comportamentos (Williams, Myerson & Hale, 2008). Nada mais que isso, por mais elaborados que sejam os modelos matemáticos aí envolvidos.

Quando não é possível observar as variáveis das quais um comportamento no presente é função, testes como amostras de comportamento são úteis, mas apenas parcialmente. Um teste que faz o levantamento de tendências agressivas certamente poderá prever com mais ou menos precisão quando uma agressão vai ocorrer, mas não nos ajuda a controlar ou evitar essa agressão.

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Skinner, B. F. (1953/1967). Ciência e comportamento humano. Brasília, DF: Editora Universidade de Brasília.
Todorov, J. C. (2009). Motivação e Personalidade: Verbos, Advérbios e Adjetivos na Descrição do Comportamento. PsicologiaIESB, 1(2), 20-23.

Williams, B., Myerson, J., & Hale, S. (2008). Individual differences, intelligence, and behavior analysis. Journal of the experimental analysis of behavior, 90(2), 219-231.

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