Há uma tendência cristalizada no senso comum, em nossa
linguagem do dia‐a‐dia, de explicar as coisas por sua
estrutura. Muitas vezes essa tendência nos leva, porém, a usar o adjetivo (que
descreve um comportamento) a ser usado como explicação do comportamento.
Dizemos que a criança resolve rapidamente o problema porque é inteligente;
que o motorista responde rispidamente ao passageiro porque é grosseiro;
que a recepcionista sorri para todos os clientes porque é alegre;
que alguém trabalha horas em um quebra‐cabeça porque é
persistente.
Adjetivos como esses são úteis para a psicologia apenas
no sentido de que a melhor previsão do comportamento é aquela baseada em
informações sobre o comportamento em condições semelhantes no passado. Um teste
de habilidades mecânicas nos dá uma amostra de comportamentos que pode nos
ajudar a selecionar melhor candidatos para uma função que vai exigir
habilidades mecânicas no futuro; é perda de tempo, porém dizer que os melhores
desempenhos no teste são devidos a alta inteligência mecânica. Isso seria
explicar o comportamento pela descrição desse mesmo comportamento.
Testes psicológicos costumam ser inventários de
respostas, as quais são atribuídas a classes, e, a partir da frequência
relativa de certos comportamentos relatados, as pessoas recebem certos rótulos,
sejam eles testes de atitudes, de opiniões ou de desempenho. Mas, como disse
Skinner (1953/2000), infelizmente o comportamento é complexo, e sua explicação
requer uma análise funcional. As habilidades mecânicas de um candidato ao
vestibular do curso de engenharia podem ser resultado da herança genética, do
ambiente no qual se desenvolveu quando criança e do ambiente com o qual
interage agora – alguma combinação imensurável desses três fatores.
Como não conseguimos observar e determinar as causas em
cada caso usamos os efeitos para prever outros efeitos; usamos observações de
comportamentos para prever outros comportamentos (Williams, Myerson & Hale,
2008). Nada mais que isso, por mais elaborados que sejam os modelos matemáticos
aí envolvidos.
Quando não é possível observar as variáveis das quais
um comportamento no presente é função, testes como amostras de comportamento são
úteis, mas apenas parcialmente. Um teste que faz o levantamento de tendências agressivas
certamente poderá prever com mais ou menos precisão quando uma agressão vai
ocorrer, mas não nos ajuda a controlar ou evitar essa agressão.
...
Skinner, B. F. (1953/1967). Ciência e comportamento humano. Brasília, DF: Editora Universidade
de Brasília.
Todorov, J. C. (2009). Motivação e Personalidade: Verbos, Advérbios e
Adjetivos na Descrição do Comportamento. PsicologiaIESB, 1(2), 20-23.
Williams, B., Myerson, J., &
Hale, S. (2008). Individual differences, intelligence, and behavior analysis. Journal of the
experimental analysis of behavior, 90(2), 219-231.
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