sábado, 8 de agosto de 2015

Contexto e a multideterminação do comportamento.



Toda psicologia, qualquer que seja a abordagem, estuda interações comportamento-ambiente. São áreas especializadas em interações principalmente envolvendo o meio ambiente externo ou com ênfase exclusiva no meio ambiente interno. Quanto ao ambiente externo, há áreas da Psicologia especializadas no estudo de interações comportamento-ambiente externo físico (Ergonomia, por exemplo), outras voltadas para uma interação comportamento-ambiente externo social (Psicologia Organizacional). Já o ambiente interno é visto como biológico em áreas como a Psicofisiologia ou histórico, nas áreas que se ocupam de processos internos conceituais sem referência imediata a um substrato biológico  (abordagens psicodinâmicas da personalidade, por exemplo).

A decomposição do conceito de ambiente em externo, físico ou social, e interno, biológico ou histórico, é apenas um recurso de análise útil para entender-se a fragmentação da Psicologia em diversos campos e para apontar os diversos fatores que, indissociáveis, participam das interações estudadas pelos psicólogos. Sem a decomposição necessária para a análise, o todo é ininteligível; por outro lado, a ênfase exclusiva nas partes pode levar a um conhecimento não-relacionado ao todo. O jogo constante de ir e vir, de atentar para a inter-relação das partes na composição do todo é essencial para o entendimento das interações comportamento-ambiente.

A designação de uma variável como causa e de outras como contexto vai depender de quais são os interesses envolvidos no estudo, pois quando variáveis de contexto são consideradas, uma relação de causa e efeito é apenas um instrumento para a descoberta de princípios de maior generalidade. Princípios são a descrição mais econômica do conjunto de relações causais e variáveis de contexto que dão origem a eles. Um sistema de relações funcionais bem definidas resultará em uma teoria útil se também vier acompanhada de especificações de onde, no ambiente externo, as variáveis independentes e as variáveis de contexto devem ser encontradas, além de instruções sobre como detectá-las e/ou medi-las. Causas, pois, são os ingredientes primários e empíricos com os quais se constroem explicações (teorias) mais compreensivas.
Portanto, o termo “causa” tem sentido apenas dentro de uma teoria ou modelo.

Não há uma causa real de um dado evento. Há apenas modelos do mundo mais ou menos adequados, e sempre passíveis de modificação, de acordo com critérios como predição, simplicidade e generalidade, entre outros (Staddon, 1973).


O efeito de variáveis de contexto no presente se sobrepujando a disposições inerentes detectadas em outras situações é bem ilustrado pelo experimento famoso do psicólogo Phillip Zimbardo, transformado em filme comercial, “A Experiência”. Em outro experimento Darley & Batson (1973) submeteram seminaristas a um experimento inspirado na parábola do Bom Samaritano, o viajante assaltado e agredido na estrada entre Jerusalém, e Jericó, segundo a Bíblia. Os alunos do Princeton Theological Seminary primeiro foram avaliados quanto ao principal dentre os motivos que os levaram a ser seminaristas – ajudar pessoas necessitadas ou busca de realização pessoal e espiritual. A seguir se pediu que preparassem uma pequena exposição sobre um tema bíblico, a ser apresentado para uma comissão julgadora em outro prédio do campus.

Para alguns o tema foi a relevância da carreira de clérigo para a vocação sacerdotal, para outros o tema foi a parábola do bom samaritano. Antes de ir fazer a apresentação do tema cada aluno teve uma pequena reunião com os experimentadores. Para alguns a reunião foi terminada com o aviso de que já estavam atrasados para a apresentação do tema, e que deviam se apressar. Para outros se disse que a reunião estava terminada, mas eles ainda tinham algum tempo antes de fazer a apresentação no outro prédio. No caminho entre os dois prédios, deserto, havia um ator que colaborou com a pesquisa, fingindo estar passando mal, deitado no chão em um canto.


Quem parou para ver o que havia com o “doente”? Só dez por cento dos que estavam com pressa pararam para ajudar, contra 63% dos que estavam despreocupados. Para atuar como bom samaritano não foi importante nem o principal motivo pelo qual estava no seminário, nem o tema do sermão que tinha preparado.


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Darley, J., & Batson, D. (1973). From Jerusalem to Jericho: A study of situational and dispositional variables in helping behavior. Journal of Personality and Social Psychology, 27, 100119.

Skinner, B. F. (1953/2000). Science and human behavior. New York, NY: MacMillan.

Staddon, J. E. R. (1973). On the notion of cause, with applications to behaviorism. Behaviorism, 1, 25-63.

Todorov, J. C. (1989/2007). A psicologia como estudo de interações. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 5, 325-347.

Weatherly, J. N., Miller, K. & Mcdonald, T. W. (1999). Social influence as stimulus control. Behavior and Social Issues, 9, 2545.

Williams, B. A., Myerson, J., & Hale, S. (2008). Individual differences, intelligence, and behavior analysis. Journal of the Experimental Analysis of Behavior, 90, 219231.

Um comentário:

  1. a pergunta que segue é resultado das leritura dos textos postados que li. Que elementos estão prsenntes e qu se ditingue de uma relação causal e de uma relação funcional? bem como de contexto e de contigencias sociais?

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