Toda
psicologia, qualquer que seja a abordagem, estuda interações
comportamento-ambiente. São áreas especializadas em interações principalmente
envolvendo o meio ambiente externo ou com ênfase
exclusiva no meio ambiente interno. Quanto
ao ambiente externo, há áreas da Psicologia especializadas no estudo de interações
comportamento-ambiente externo físico (Ergonomia, por exemplo), outras voltadas
para uma interação comportamento-ambiente externo social (Psicologia
Organizacional). Já o ambiente interno é visto como biológico em áreas como a
Psicofisiologia ou histórico, nas áreas que se ocupam de processos internos conceituais
sem referência imediata a um substrato biológico (abordagens psicodinâmicas da personalidade, por exemplo).
A
decomposição do conceito de ambiente em externo, físico ou social, e interno, biológico
ou histórico, é apenas um recurso de análise útil para entender-se a
fragmentação da Psicologia em diversos campos e para apontar os diversos fatores
que, indissociáveis, participam das interações estudadas pelos psicólogos. Sem
a decomposição necessária para a análise, o todo é ininteligível; por outro
lado, a ênfase exclusiva nas partes pode levar a um conhecimento
não-relacionado ao todo. O jogo constante de ir e vir, de atentar para a inter-relação
das partes na composição do todo é essencial para o entendimento das interações
comportamento-ambiente.
A
designação de uma variável como causa e de outras como contexto vai depender de
quais são os interesses envolvidos no estudo, pois quando variáveis de contexto
são consideradas, uma relação de causa e efeito é apenas um instrumento para a
descoberta de princípios de maior generalidade. Princípios são a descrição
mais econômica do conjunto de relações causais e variáveis de contexto que dão
origem a eles. Um sistema de relações funcionais bem definidas resultará em uma
teoria útil se também vier acompanhada de especificações de onde, no ambiente
externo, as variáveis independentes e as variáveis de contexto devem ser
encontradas, além de instruções sobre como detectá-las e/ou medi-las. Causas, pois,
são os ingredientes primários e empíricos com os quais se constroem explicações
(teorias) mais compreensivas.
Portanto, o termo
“causa” tem sentido apenas dentro de uma teoria ou modelo.
Não
há uma causa real de um dado evento. Há apenas modelos do mundo mais ou menos
adequados, e sempre passíveis de modificação, de acordo com critérios como
predição, simplicidade e generalidade, entre outros (Staddon, 1973).
O
efeito de variáveis de contexto no presente se sobrepujando a disposições
inerentes detectadas em outras situações é bem ilustrado pelo experimento famoso
do psicólogo Phillip Zimbardo, transformado em filme comercial, “A
Experiência”. Em outro experimento Darley & Batson (1973) submeteram
seminaristas a um experimento inspirado na parábola do Bom Samaritano, o viajante
assaltado e agredido na estrada entre Jerusalém, e Jericó, segundo a Bíblia. Os
alunos do Princeton Theological Seminary primeiro foram avaliados quanto ao
principal dentre os motivos que os levaram a ser seminaristas – ajudar pessoas
necessitadas ou busca de realização pessoal e espiritual. A seguir se pediu que
preparassem uma pequena exposição sobre um tema bíblico, a ser apresentado para
uma comissão julgadora em outro prédio do campus.
Para
alguns o tema foi a relevância da carreira de clérigo para a vocação
sacerdotal, para outros o tema foi a parábola do bom samaritano. Antes de ir
fazer a apresentação do tema cada aluno teve uma pequena reunião com os
experimentadores. Para alguns a reunião foi terminada com o aviso de que já
estavam atrasados para a apresentação do tema, e que deviam se apressar. Para
outros se disse que a reunião estava terminada, mas eles ainda tinham algum
tempo antes de fazer a apresentação no outro prédio. No caminho entre os dois
prédios, deserto, havia um ator que colaborou com a pesquisa, fingindo estar
passando mal, deitado no chão em um canto.
Quem
parou para ver o que havia com o “doente”? Só dez por cento dos que estavam com
pressa pararam para ajudar, contra 63% dos que estavam despreocupados. Para
atuar como bom samaritano não foi importante nem o principal motivo pelo qual
estava no seminário, nem o tema do sermão que tinha preparado.
.....
Darley, J., & Batson, D. (1973). From Jerusalem to Jericho: A study
of situational and dispositional variables in helping behavior. Journal of
Personality and Social Psychology, 27, 100‐119.
Skinner, B. F. (1953/2000). Science and human
behavior. New York, NY: MacMillan.
Staddon, J. E. R. (1973). On the notion of cause, with applications to
behaviorism. Behaviorism,
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Todorov, J. C. (1989/2007). A
psicologia como estudo de interações. Psicologia:
Teoria e Pesquisa, 5, 325-347.
Weatherly, J. N.,
Miller, K. & Mcdonald, T. W. (1999). Social influence as stimulus control. Behavior and
Social Issues, 9, 25‐45.
Williams, B. A., Myerson, J., & Hale, S. (2008).
Individual differences, intelligence, and behavior analysis. Journal of the
Experimental Analysis of Behavior, 90, 219‐231.
a pergunta que segue é resultado das leritura dos textos postados que li. Que elementos estão prsenntes e qu se ditingue de uma relação causal e de uma relação funcional? bem como de contexto e de contigencias sociais?
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