Cristóvam Buarque no Correio Braziliense de hoje (24 de fevereiro de 2015, p. 13):
“O esgotamento do crescimento da economia, os catastróficos déficits fiscal e cambial das contas públicas, a gigantesca corrupção explícita na Petrobrás, com suspeita de que exista também em outros órgãos, a ineficiência generalizada de gestão, a escassez de energia e água com risco de racionamento, a inflação corroendo especialmente o poder de compra dos salários e da bolsa-família, a falta de qualidade no ensi no superior, a persistência dos baixos indicadores na educação básica, o descumprimento das promessas de campanha, a violência urbana generalizada e o retrocesso da presença no exterior foram criando clima oposto ao Brasil emergente, como se o país estivesse reimergindo ao estado de subdesenvolvimento.”
Diante dessa realidade os apoiadores do governo reagem como marqueteiros. Intelectuais reagem à destruição da Petrobrás. Esse é um título de matéria que pode ser encontrada no site cartamaior.com.br. Imagina-se logo que as pessoas que assinam apoiando o conteúdo estejam interessadas em acabar com a roubalheira na empresa. Longe disso. Certamente os que assinam são contra a corrupção, mas o texto todo é voltado para acusar os “verdadeiros” responsáveis por tudo de errado que aí está: os imperialistas ianques.
O conteúdo é típico da propaganda do governo, dizem que orientada pelo marqueteiro João Santana. A argumentação tem certo fundamento. Na forte concorrência mundial pelo mercado dos derivados de petróleo, todas as concorrentes gostariam de ver o desaparecimento da Petrobrás: empresas americanas, francesas, italianas, holandesas, etc. Mas daí a fazerem campanha para destruir a Petrobrás como forma de desestabilizar o governo da coalizão petista vai uma distância estratosférica. Acreditar nisso só delirando.
Menciona-se o clima político de 1964. Falar agora do golpe militar só pode ser entendido como um reforço à tese petista que afirma estar em andamento uma proposta de impeachment da Presidente Dilma. Mais parece defesa prévia. O partido ainda não foi acusado formalmente de agir criminosamente na captação de recursos via conluio com empreiteiras. Se cortinas de fumaça como essa levantada pelo manifesto derem certo, estará provado mais uma vez que na política como no futebol, a melhor defesa é o ataque.
A expressão “ou o Brasil acaba com a Operação Lava Jato ou a Operação Lava Jato acaba com o Brasil”, que parece ser o mote da campanha do marqueteiro, é obviamente um exemplo das flâmulas e gonzos recomendados em “A Arte da Guerra” como recurso para manter a concentração dos soldados (militantes) nas palavras de ordem do partido, para isolá-los do medo gerado pelo alarido da oposição. Mas a eleição acabou. Enganaram pouco mais da metade dos eleitores por pouco tempo, mas todos sabemos que não é possível enganar todo o povo por muito tempo.
No artigo para o Correio Braziliense Cristóvam Buarque sugere:
“Com tantos problemas, não será possível saltar a crise e reorientar o futuro sem debate amplo e sério, no qual o governo reconheça os erros, as oposições ofereçam propostas e as forças políticas combinem agenda de ajustes econômicos com a garantia de direitos aos trabalhadores e massas pobres, com preocupação que vá além das próximas eleições. Mas esse não parece ser o quadro da política atual. Antes de voltar a emergir para nova sociedade, vamos precisar emergir para nova forma de fazer política, percebendo as nuances dos problemas, os limites ao crescimento, as necessidades de longo prazo. Quando a realidade é vista em apenas duas cores e o tempo sentido apenas no presente, o sectarismo mata a lucidez e destrói a esperança.”
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