sábado, 16 de maio de 2015

Armadilhas da avaliação


            Deu no NY Times: Na pequena cidade de Menomonee Falls, Wisconsin, todas as escolas funcionam com um sistema completo de avaliação por dados concretos, observáveis, como a sujeira dos banheiros, o número de alunos punidos por infração disciplinar, e vários outros números de inúmeras outras atividades, do menu no restaurante ao número de letras que as crianças do maternal podem reconhecer.

No papel está tudo muito bem, parece um paraíso behaviorista. Cada comportamento é medido pelos seus efeitos. O diretor não precisa acompanhar pessoalmente o trabalho do faxineiro enquanto ele limpa o banheiro: o que interessa é ver se o banheiro está limpo quando o faxineiro termina seu trabalho. Quando o número de alunos punidos em uma classe aumenta, o diretor não precisa observar o trabalho do professor para saber que alguma coisa está errada. E assim por diante. O objetivo é sempre poder melhorar tudo, do desempenho dos alunos ao percurso do ônibus escolar. Você pode achar que a Análise do Comportamento finalmente chegou às escolas de Wisconsin, mas não é o caso. A inspiração veio de W. Edward Deming, engenheiro e estatístico famoso na área de Administração, que aprendeu com os japoneses a melhorar a qualidade de seus produtos usando análise estatística e feedback de trabalhadores e clientes.

           Behaviorista ou não, a abordagem usada em Menomonee Falls deu certo. Tão certo que atraiu críticas às quais os analistas do comportamento estão acostumados: o método não mostra “todo o cenário”, não leva em conta os “intangíveis”, “exacerba a cultura da avaliação”, etc. A maior crítica, entretanto, não aparece na reportagem assinada por Motoko Rich no NY Times.

Cada professor mantém um placar na sala de aula com a distribuição de frequência das notas de seus alunos, sem identificação de quem tirou qual nota.  Ao publicar a distribuição de frequência das notas o professor está reforçando o desempenho dos melhores alunos e punindo o desempenho dos mais fracos, mesmo que apenas cada aluno fique sabendo onde está no gráfico. Melhor seria um gráfico que mostrasse como cada aluno melhorou, piorou ou ficou na mesma quando são comparadas as notas com a avaliação anterior, e uma comunicação aos pais, levada pelo aluno, sobre o progresso que fez desde a avaliação anterior, independentemente de onde ele ainda está na distribuição de todas as notas naquela avaliação. 

Nada motiva mais que o sucesso, tanto mais importante quantos forem os fracassos anteriores.




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