quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Sabedoria do Papa adaptada para behavioristas

Na mensagem de natal dirigida a cardeais e bispos o Papa surpreendeu e fez críticas sem precedentes ao comportamento dos membros da Cúria.
Inspirados pela crítica do Papa Francisco à Cúria Romana, aqui vão conselhos dirigidos apenas aos behavioristas amigos da internet (para não dizerem que me meti a Papa do behaviorismo):
1 – A sensação de imortalidade, imunidade ou de ser indispensável costuma acompanhar o sucesso profissional do analista do comportamento, mas é bom lembrar que o resto da Psicologia não pensa assim. O cemitério dos psicólogos está cheio de “ex-ímortais”, “ex-imunes” e de “ex-indispensáveis”.
2 – Cuidado com a excessiva diligência. Pare para pensar antes de seguir regras. Como disse o Papa, “negligenciar o descanso necessário leva ao estresse e à agitação” e isso vale também para os behavioristas.
3 – Cuidado com o endurecimento mental. Isso é combatido acompanhando de vez em quando o que o resto do mundo está fazendo.
4 – Não abuse do planejamento excessivo e da análise funcional. Imaginação e improvisação são as mães da inovação.
5 – A má coordenação mata o futuro. Behaviorismo e análise do comportamento são obras coletivas. Como disse o Papa, o individualismo faz a orquestra produzir ruído, não música. Se cada um começar a dar nomes novos aos velhos bois a vaca vai para o brejo.
6 – O Alzheimer acadêmico torna o behaviorista uma pessoa totalmente dependente de seus pontos de vista, muitas vezes imaginários.
7 – A glória pessoal e a rivalidade são doenças irmãs, e seus sintomas são a ênfase absoluta em publicar e ser citado.
8 – Cuidado com a hipocrisia existencial, a doença dos que se dedicam burocraticamente à crítica da teoria e perdem contato com o comportamento das pessoas vivendo em sociedade. Alguns se dedicam a vida dupla, definindo conceitos de uma forma e usando-os na prática de outra.
9 – Fujam de conversas e fofocas, as quais semeiam discórdia e maledicência.
10 – Badalar o chefe é bom para carreira na política. Não deveria funcionar na ciência e na profissão (mas nunca se sabe...).
11 – Quando todo mundo pensa em si mesmo a procissão não anda. Lembrem-se que o santo é de barro e muitos são necessários para carregar o andor.
12 – Behavioristas são arrogantes por natureza, mas não custa fazer um esforço e sorrir para os clientes.
13 – Os que gostam do trabalho cobram preços razoáveis e não escorcham a clientela. Já os que sentem “um vazio existencial em seu coração” afogam as mágoas com preços inacessíveis.
14 – Evitem os círculos fechados. Esses grupos tendem a se tornar muito fortes e a gerar dissidências que se apresentam depois como uma nova ciência (se disserem que eu estava pensando no Steve Hayes vou dizer que é mentira).
15 – Cuidado com o exibicionismo do poder. Segundo o Papa, é a doença que transforma seu serviço em poder, e seu poder em mercadoria para ganhar mais dinheiro ou ainda mais poder.

11 comentários:

  1. Se bem compreendido, pelos behavioristas, este texto corresponde ao Príncipe, de Maquiavel.

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  2. Boas Festas, professor Todorov e obrigada por todos os textos com os quais nos presenteia. Abraços behavioristas

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  3. Seu texto é perfeito! Vale colocar no cartão de Natal de certos Behavioristas! Merece aplausos!

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    1. Obrigado. Estou pensando em adaptar o texto para outros îstas necessitados...

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  4. Excelentes observações, necessárias!
    Fundamental, se vividas. Muito bonitas, se só lidas.

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