quarta-feira, 19 de março de 2014

Comportamento, má fé e ignorância.


         Há alguns anos fui procurado para dar parecer sobre um texto escrito pela Sra Maria Leila Alves sobre Skinner. O trabalho saiu publicado com a tradução do livro de Louis M. Smith sobre B. F. Skinner como educador, na Coleção Educadores do MEC em parceria com a  Fundação Joaquim Nabuco e a Editora Massangana. Meu parecer contrário ao  adendo da Sra, Maria Leila Alves não foi considerado. Venho esclarecer que não apoio o que escreveu sobre Skinner, apesar de meu nome ser citado como Revisor Técnico. Se o MEC e a Unesco não desconsideraram minha opinião não deveriam ter usado meu nome. Acho abominável o dinheiro público ser usado para publicar baboseiras, slogans, aleivosias, e inverdades em geral. Vejamos alguns exemplos:

“(os estudos de Skinner) não levam em conta os aspectos simbólicos da natureza humana e da cultura.”  

Só quem não conhece Skinner pode dizer isso. Boa parte de seu livro “Ciência e Comportamento Humano” fala dos “aspectos simbólicos da natureza humana e da cultura”. 

 “(O behaviorismo) alastrou-se disseminando a ideia de que a aprendizagem dependia exclusivamente da fixação e extinção de comportamentos, recorrendo-se para isso a repetições acompanhadas de reforços positivos e negativos.”

Nem os behavioristas metodológicos dos anos 30 foram tão radicalmente simplistas.

“..a forma radical como Skinner aplicou os princípios de condicionamento operante na instrução programada e nas máquinas de ensinar contribuiu para que as concepções da aprendizagem significativa não tenham espaços nos procedimentos didático-pedagógicos até os dias atuais”.

         De que país a autora está falando?

“não basta transformar os meios para o ensino, se a concepção em que nos apoiarmos não considerar que o ser humano constrói o seu conhecimento e não apenas o reproduz, após um processo de condicionamento operante, princípio ligado à concepção behaviorista de aprendizagem”

      
   Mais uma demonstração cabal de completa ignorância, temperada com má fé. A autora escreve com a tranquilidade dos que são felizes porque não sabem que não conhecem o assunto.

8 comentários:

  1. Bom, professor, também achei o texto dela, além de superficial e distorcido, absolutamente descomprometido. Qualquer pessoa que se atreva a escrever a biografia de alguém precisa ser absolutamente responsável e capaz de compreender todos os aspectos da história de um indivíduo. Essa "biógrafa" foi absolutamente descomprometida, parece ter escrito a biografia de Skinner a partir da leitura daqueles que nunca leram Skinner realmente. É uma grosseria, um desrespeito, um ato de total incompreensão do legado skinneriano. Claro que biografias não precisam ser apologéticas, mas daí caminhar para a ignorância, brincadeira. O duro que o pessoal da Educação vai ler isso. Tá passando de hora de abraçarmos uma biografia brasileira sobre o skinner...

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  2. Todorov, acabei de ler uma frase atribuída ao Stephen Hawking que aplica-se muito bem ao caso que você comenta: "O maior inimigo do conhecimento não é a ignorância, mas a ilusão do conhecimento".

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  3. Nós, profissionais que admiram Skinner e suas ideias, temos que, diariamente, lutar contra o preconceito e distorções feitas em relação as suas colocações...Por vezes, é tão cansativo...
    Publicações sobre teorias deveriam passar por um crivo detalhado das editoras!

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  4. Esses dias veio uma palestrante de Portugal aqui na UFPR, fazer uma conferência de início de ano letivo e disse mais ou menos a mesma coisa segundo relato dos meus orientandos.... :(

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  5. A pessoa escrever de tal forma já é surpreendente. Mas daí deixarem publicar... é lamentável mesmo! A publicação é que faz o grande estrago!

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  6. Ela dizer o que diz já estamos acostumados. Chocante é o nome J C Todorov constar como revisor técnico quando justamente ele rejeitou o texto.

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  7. Estamos em um País no qual o "conhecimento verdadeiro" (ou considerado o verdadeiro) é totalmente produzido pelo senso comum, ou por pessoas que se dizem cientistas, sem nunca ter realmente contato com método científico. Assim, podemos ver o nível de ignorância que permeia essa cultura... Lamentável!

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