Três
artigos na seção Tendências/Debates da Folha de São Paulo tratam de
abordagens para o tratamento de crianças autistas. Nilde Franch escreveu
“Autismo e Psicanálise” em 13 de setembro de 2013, Del Rey, Vilas Boas e Ilo escreveram
“Análise do Comportamento e Autismo” em 25 de outubro, e Vera Regina Fonseca
escreveu a tréplica, Questão Complexa, Abordagem Ampla”, em 19 de novembro. Os
três textos só esclarecem quem não precisa ser esclarecido. Os argumentos
parecem mais voltados para uma disputa de mercado, do tipo “Minha abordagem
lava mais branco”. Como o texto da Dra. Vera Regina Fonseca pretende resumir,
ressaltar ou rechaçar argumentos dos anteriores, comento aqui partes de seu
artigo.
No autista, o resultado é uma dificuldade
básica em se relacionar com as pessoas, o que o impede de usar a ligação com os
pais para a regulação emocional..”. Isso não é um fato; trata-se no máximo de hipótese de
trabalho, algo a ser comprovado empiricamente. Será mesmo que a
“mãe-geladeira”, a mãe que rejeita o bebê e não estabelece laços emocionais com
a criança é uma das causas do autismo? Se isso é fato, como detectar a futura
mãe-geladeira nas mulheres grávidas? Como prepara-las, por meio de terapia,
para a futura tarefa de cuidar do bebê humano?
Por meio de recursos técnicos próprios, o
trabalho psicanalítico objetiva reativar os caminhos do desenvolvimento
relacional e compartilhar estratégias com os pais. Aviso aos distraídos: a
autora não está falando do método terapêutico psicanalítico associado ao termo
Psicanálise. Trata-se de psicoterapia
convencional baseada na teoria psicanalítica da personalidade. Para uma
avaliação de resultados há que descrever quais são os métodos técnicos
próprios, dizer como constatar empiricamente a reativação dos “caminhos do
desenvolvimento relacional” e descrever as estratégias a serem compartilhadas
com os pais. Atacar essa abordagem “psicanalítica” do autismo achando que se
trata da técnica tradicional desenvolvida por Freud é dar um tiro no pé.
Um dos argumentos da réplica é que as
estereotipias do autismo se devem à falta de repertório e de integração. Existe
tal déficit, mas ele é secundário ao prejuízo central na capacidade de se
relacionar. Outra hipótese de trabalho; não há constatação empírica. O que
vem primeiro, o prejuízo central devido ao desenvolvimento atípico do sistema
nervoso ou a falta de interações
adequadas com o ambiente físico e social? Ou os dois fatores são secundários a
um desenvolvimento atípico da integração dos órgãos sensoriais? Na falta de
respostas baseadas em constatação empírica, há que evitar diagnósticos
preconcebidos por qualquer teoria e tratar cada caso como se fosse único; a
priori nenhuma aprendizagem é impossível.
Lembrem-se que autismo não é nome para diagnóstico, apenas resume o que
se entende por um espectro que abrange uma variedade de “sintomas” ou “comportamentos
inadequados”.
“... não é possível uma “religião” que determine a exclusão da
psicanálise de um campo no qual ela tem 90 anos de experiência, já que Melanie
Klein trabalhou com sucesso uma criança autista na década de 20, antes até da
descrição feita por Leo Kanner.” Parece que a “religião” mencionada é a Análise
do Comportamento. Reconheço que um ou outro analista do comportamento dentre os que
conheço costuma se apresentar como profeta, mas lembro que a exigência de
comprovantes empíricos do resultado da terapia não foi inventada por nós. Isso
é coisa do povo americano, que costuma cobrar resultados daquilo que é feito
com o dinheiro deles.
Caio Miguel, analista do comportamento brasileiro radicado nos Estados Unidos, internacionalmente reconhecido como especialista em autismo, recomenda os sites a seguir para obter informações sobre as vantagens da abordagem:
http://www.nationalautismcenter.org/nsp/
além do documentario sobre psicanalise e autismo. http://www.youtube.com/watch?v=8vZk1soZAC0
http://www.nationalautismcenter.org/nsp/
além do documentario sobre psicanalise e autismo. http://www.youtube.com/watch?v=8vZk1soZAC0
João Claudio Todorov, analista do comportamento, é Professor
Emérito e Pesquisador Associado da Universidade de Brasília.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirPrezado Dr. Todorov, discordo de sua conclusão como alguém que trabalha há 15 anos com crianças com autismo e tem uma produção científica significativa na área. Sugiro revisar avaliações independentes de eficácia de tratamentos como
ResponderExcluirhttp://www.nationalautismcenter.org/nsp/
além do documentario sobre psicanalise e autismo. http://www.youtube.com/watch?v=8vZk1soZAC0
Infelizmente, a maioria dos analistas do comportamento se pronunciando a respeito desse tema tem pouca experience e nenhuma produção na área - algo que me preocupa.
Caio Miguel