sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Quem é behaviorista radical?

Não vejo sentido hoje em textos que se identificam com o behaviorismo radical. O adjetivo foi usado por Skinner para afirmar-se contrario a posições de teóricos como Boring. No presente século não há behaviorismos outros que não o skinneriano. Falar em radical só complica o ouvinte. O texto a seguir, que poderia ter por titulo "Porque Não Sou Um Behaviorista Radical", se apóia em minhas publicações anteriores e em artigo em preparação.
A análise do comportamento não é uma área da psicologia, mas uma maneira de estudar o objeto da psicologia. Este trabalho traduz uma visão pessoal e tenta esclarecer os significados dos termos "behaviorismo", "análise do comportamento" e "psicologia". Para tanto recorremos a Harzem & Miles em "Conceptual Issues in Operant Psychology" (1975). O termo "behaviorismo" tem sido utilizado de diversas maneiras e de tal modo que se pode afirmar que há muitas variedades de significado para ele. Desde o manifesto de Watson, muitas características foram atribuídas ao termo. Muitas delas perderam-se no tempo ante críticas irrespondíveis, outras permanecem. Para Harzem e Miles a palavra behaviorismo tem uma "família de significados", e por isso, além de desnecessário, é um equívoco esperar-se encontrar o seu "verdadeiro" significado. Portanto, a menos que se faça a distinção entre as diversas variedades de significado, não é útil proclamar-se "a favor" ou "contra" o behaviorismo.
Harzem e Miles utilizam uma classificação defendida por Mace (1948) para as variedades de behaviorismo: metafísico, metodológico e analítico. O behaviorismo metafísico afirma que mentes ou eventos mentais não existem; o behaviorismo metodológico afirma que se mente ou eventos mentais existem, não são objetos apropriados para o estudo científico; e o behaviorismo analítico afirma que os enunciados feitos com o propósito de se referir à mente ou eventos mentais tornam-se, quando analisados, enunciados acerca do comportamento. Harzem e Miles argumentam que as discussões sobre o behaviorismo metafísico e o behaviorismo metodológico são o resultado de erros conceituais, e que tanto a aceitação quanto a rejeição de um ou de outro são igualmente (e logicamente) injustificáveis. O behaviorismo analítico é diferente dos outros dois tipos porque suas proposições têm caráter claramente conceitual. A tese central afirma que sentenças a respeito de mentes e eventos mentais requerem uma tradução para sentenças sobre o comportamento. O behaviorismo analítico, neste sentido, é uma proposta conceitual: não é uma teoria sobre o que deve ser estudado, nem é um conjunto de instruções sobre como se deve ser estudado, nem é um conjunto de instruções sobre como se deve fazer pesquisa.

2 comentários:

  1. Quando o senhor escreveu sobre a tradução de termos mentalistas para a Análise do Comportamento pensei nas palavras do Prof. Roberto Banaco, em uma palestra recente que assisti. Ele comenta que palavras usualmente atribuídas a processos da mente são como substantivos (amor) e, sob uma perspectiva analítica, devemos "traduzi-la" em verbo/probabilidade de ação (amar - estar disposto a algo por alguém).

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  2. O que pode dizer que a linguagem cognitiva trata processos de interação como estruturas mentais. Em trabalhos desse tipo temos muito a ganhar se não nos preocuparmos muito com a teoria da introdução e da discussão e prestarmos atenção no método e nos resultados da pesquisa.

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