segunda-feira, 30 de agosto de 2010

A morte do behaviorismo

O behaviorismo tem sido dado como morto e enterrado por muitos autores nos últimos cinqüenta anos, especialmente com o advento da Psicologia Cognitiva. Em seu livro "Behaviorism and the limits of scientific method", Mackenzie fala do behaviorismo no passado, apesar de conceder sua grande importância na psicologia moderna. Mas atribui sua importância ao fato de haver falhado ao tentar construir uma ciência da psicologia pelo uso de regras e procedimentos detalhados e explícitos, os quais seriam resultado das análises mais rigorosas e sofisticadas da lógica da ciência. Mackenzie trata o behaviorismo como um movimento, o que é, no mínimo, uma temeridade. Diz que o behaviorismo baseou-se grandemente em uma abordagem agressivamente objetiva dos problemas da psicologia (estaria falando só de Watson ou de Tolman também?); que ganhou o apoio da maioria dos psicólogos que tiveram contato com ele (esquecendo-se de mencionar quais psicólogos, quais lógicos, em qual época, e sobre quais aspectos dos vários behaviorismos); que continuou a atrair novos adeptos e a desenvolver novos métodos de investigação durante os quarenta ou cinqüenta anos nos quais dominou a psicologia, gerando enorme quantidade de pesquisas cuidadosas e sofisticadas e, sem contudo, produzir um corpo significativo de conhecimento científico duradouro que possa ser comparado ao que se verifica em outras ciências (não especifica o que quer dizer com "um corpo significativo de conhecimento científico; seria uma teoria axiomatizada, como a física atômica ainda não tem?). Mackenzie continua para afirmar que, como não produziram resultados em larga escala, as grandes teorias behavioristas foram praticamente abandonadas (desde quando se pode jogar Hull e Skinner no mesmo balaio?).
A análise do comportamento, que não se limita à análise experimental do comportamento, origina-se de uma posição behaviorista assumida por Skinner por motivos mais históricos que puramente lógicos. Skinner parte da constatação de que há ordem e regularidade no comportamento. Um vago senso de ordem emerge da simples observação mais cuidadosa do comportamento humano. Estamos todos continuamente analisando circunstâncias e predizendo o que os outros farão nessas circunstâncias, e nos comportamos de acordo com nossas previsões. Fosse possível, isto é, se as interações entre os indivíduos fossem caóticas, simplesmente não estaríamos aqui. O estudo científico do comportamento aperfeiçoa e completa essa experiência comum, quando demonstra mais e mais relações entre circunstâncias e comportamentos, e quando demonstra as relações de forma mais precisa (Skinner, 1953/1967).
Quando Skinner explicitou um programa de trabalho para o desenvolvimento de uma ciência do comportamento, previu uma análise experimental do comportamento como um dos aspectos de um empreendimento maior. Vejamos o que diz em "Ciência e comportamento humano", publicado originalmente em 1953 (Skinner, 1953/1967):

"As variáveis externas, das quais o comportamento é função, dão margem ao que pode ser chamado de análise causal ou fundamental. Tentamos prever e controlar o comportamento de um organismo individual. Esta é a nossa 'variável dependente' - o efeito para o qual procuramos a causa. Nossas 'variáveis independentes' - as causas do comportamento - são as condições externas das quais o comportamento é função. Relações entre as duas - as 'relações de causa e efeito' no comportamento - são as leis de uma ciência" (Skinner, 1953/1967, p.45).

Para Skinner, o material a ser analisado provém de muitas fontes, das quais a análise experimental do comportamento é apenas uma delas. Skinner aponta a utilidade de observações casuais, observação de campo controlada, observação clínica, observações controladas do comportamento em instituições, estudo em laboratório do comportamento humano, e por fim, estudos de laboratório do comportamento de animais abaixo do nível humano.
REFERÊNCIAS

Harzem, P. & Miles, T.R. (1978). Conceptual issues in operant psychology. Chichester, Inglaterra: Wiley.
Mackenzie; B.D. (1977). Behaviorism and the limits of scientific method. Atlantic Highlands, N.J., Humanities Press.
Skinner, B. F. (1953/1967). Science and human behavior. New York: McMillan. Tradução para o português de J. C. Todorov & R. Azzi, Ciência e comportamento humano. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1967.

6 comentários:

  1. O artigo de Mackenzie é de 1977! eu acho muito interessante pessoal que ainda tem essa opinião em plenos 2010.

    ResponderExcluir
  2. Em parte essa atitude de "Behaviorismo ja morreu" se da porque os proprios behavioristas sao pessimos, em geral, divulgadores.

    Para preservar o BR/AC puros e intocados, parece que preferiram, historicamente, se entrincheirar na Academia de uma forma que os tornou antipaticos para, p.e., os graduandos.

    E' raro encontrar um behaviorista que saiba usar de 'fading' adequaod e passar, paulatinamente, a mensagem de que o Behaviorismo esta vivo, e' interessante e fascinante.

    ResponderExcluir
  3. E não deveria partir dos behavioristas experientes uma iniciativa de ensinar essas "habilidade sociais" para seus alunos que um dia tambem serão mestres?

    ResponderExcluir
  4. Falar em animais abaixo do nível humano é um erro.

    ResponderExcluir
  5. Não entendi o que disse a Mara Lívia, gostaria que explicasse melhor sua posição. Quanto ao Marcos e ao Alexandre, concordo. Estou em campanha para mudar a cabeça de alguns colegas que ensinam AC.

    ResponderExcluir
  6. É impressionante quantas vezes na literatura o behaviorismo metodológico e Radical são confundidos. Isso mostra que maioria dos críticos de Skinner nunca se deram o trabalho de ler algo que ele tenha escrito.

    Excelente texto professor.

    ResponderExcluir