domingo, 22 de agosto de 2010

O curso introdutório de analise do comportamento na UnB.

O primeiro curso de analise do comportamento na Universidade de Brasília começou em agosto de 1964 com o nome de Introdução a Analise do Comportamento 1, continuando com o IAEC 2 em março de 1965. O grupo original liderado por Fred Keller e Carolina Bori se dissolveu, mas o IAEC 1, o semestre introdutório para o qual o PSI foi desenvolvido, sobreviveu. Hoje em quase todos os cursos de psicologia no Brasil há alguma versão dele. Em muitos casos é o único contato que o aluno tem com a análise do comportamento durante os cinco anos de seu curso. Com freqüência, os alunos são expostos apenas aos primeiros capítulos de Ciência e Comportamento Humano, juntamente com capítulos do K&S ou de algum de seus sucedâneos (Baum, 1994; Catania, 1998; Millenson, 1967), em um curso de um semestre apenas. Mais recentemente tem crescido o uso de um livro novo, Princípios Básicos de Análise do Comportamento (Moreira & Medeiros, 2007). A experiência com o IAEC 2, o segundo semestre baseado inteiramente em dados sobre o comportamento humano e na segunda metade de Ciência e Comportamento Humano, se perdeu.
Partes do livro são usados, contudo, em diversas outras disciplinas, de psicologia
do desenvolvimento à psicologia organizacional. À medida em que a análise de práticas culturais torna-se matéria de interesse para os analistas do comportamento (Biglan, 1995; Guerin, 1994; Lamal, 1997; Sidman, 1989), Ciência e Comportamento Humano continuará a ser uma inspiração para os interessados em todos os aspectos do comportamento social humano. Na verdade, as seções sobre as agências controladoras são mais relevantes agora do que no século passado. Skinner estava escrevendo sobre o governo durante os primeiros anos da Guerra Fria. É interessante notar que, ao contrário de obras de ficção da época sobre governos totalitários (Orwell, 1949, por exemplo), Skinner analisa controles e contra-controles durante o funcionamento imperfeito de sistemas democráticos -- imperfeitos na medida em que um sistema democrático envolve um balanceamento contínuo de controles e contra-controles. As ditaduras, por outro lado, desenvolvem todos os esforços para tornar difícil o contra-controle.
As análises de Skinner tratam do funcionamento de governos democráticos, de
convivência sem coerção, mas no Brasil seu nome acabou associado politicamente com a direita, em grande parte pela publicação da tradução de seu livro Beyond Freedom and Dignity (Skinner, 1971). O título original do livro já é terrivelmente enganoso (Além da Liberdade e da Dignidade). Permite a interpretação de que o autor trata os conceitos de liberdade e dignidade de maneira negativa, se não pejorativa. A tradução para o português foi um desastre: O Mito da Liberdade. Com esse título muitos odeiam o livro mesmo sem ter lido, o que é uma pena. Quem tinha lido Ciência e Comportamento Humano não se deixou assustar pelo título original, pela tradução, nem pelas reações de quem não leu. A essência democrática de Skinner já estava neste livro.

4 comentários:

  1. Embora voce tenha escrito que Skinner nao trata os conceitos de liberdade e dignidade de forma pejorativa, seria correto dizer que ele propoe um novo conceito de liberdade? e que de acordo que esse novo conceito a ausencia de controle seria uma impossibilidade??

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  2. Anne,

    Sim, na medida em que alguem conhece suas circunstancias tem mais condições de exercer autocontrole, tem condições de alterar contingencias do ambiente para controlar o proprio futuro, tem mais condições de ser protagonista, como esta na moda dizer hoje. Um conceito de liberdade total e absoluta, do tipo livre arbitrio, e incompativel com qualquer orientação teorica em psicologia enquanto ciencia.

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  3. Poxa... eu fique tão feliz com o fato de voce ter respondido!! entao deixa eu te fazer outra pergunta: quando nós ensinamos um cliente a fazer analise funcional e este emite respostas diferentes para obter determinadas mudanças no seu meio (isso especificadamente em relação a outros seres humanos), nao estamos ensinando a ele a cotrolar comportamentos alheios com mais consciencia e possivelmente eficiencia, quer dizer, nao há uma questao ética aí?? Onde o cliente aprende a direcionar o comportamento do outro podendo fazer isso visando apenas seus proprios interesses, desconsiderando o outro ou coisa do genero?? eu nao sei se esa pergunta faz sentido, mas é uma coisa que estou pensando muito desde que li um livro de Kazdin "O método Kazdin" onde ele descerev seu método para fazer os filhos com compormentos diiceis se comportarem de determinada forma. É isso. Obrigada!!

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  4. Ao ensinar seu cliente a se conhecer melhor e a ter mais controle sobre sua propria vida voce tambem esta transmitindo valores eticos. Mas nao acho que devemos ensinar o cliente a viver como viveriamos em seu lugar. Em geral logo percebemos que tentativas de manipular o outro costumam levar a contracontrole.

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