Recentemente Diego Manzano
Fernandes (Perfil no Facebook) instou analistas do comportamento a buscar
relações entre avanços na Ciência Política nos últimos 100 anos e o que Skinner
publicou sobre o Governo. A preocupação é pertinente. Ao especificar que o
comportamento humano é função de variáveis que dependem da filogênese
(espécie), ontogênese (indivíduo) e da cultura, Skinner deu muita ênfase ao
desenvolvimento do comportamento de indivíduos. Contudo, em “Ciência e Comportamento
Humano” boa parte do livro trata de questões que envolvem o terceiro nível de
seleção, o nível cultural, mas o que seria uma psicologia social behaviorista nunca
realmente se desenvolveu.
É do interesse de todos que a análise do comportamento se desenvolva em
direção a todas as ciências com a quais faz fronteira, das biológicas às
sociais. Mas é fundamental que esse desenvolvimento ocorra “ciscando para
dentro”, com um aumento na abrangência da teoria, e não “ciscando para fora”,
com áreas da análise do comportamento sendo “cooptadas” por outras linguagens
teóricas.
A cooptação tende a ocorrer
sempre que há a aproximação com teorias já estabelecidas, com mais prestígio e
tradição. Na interface da economia com a psicologia os estudos
analítico-comportamentais sobre o comportamento do consumidor são absorvidos
pelos estudos da “psicologia” do consumidor de tal forma que hoje “economia
comportamental” em verdade é “economia cognitiva”, com dois Premio Nobel no
bolso em menos de 20 anos.
Na área de desenvolvimento
atípico do comportamento o sucesso ao lidar com o autismo levou a um resultado
semelhante. Hoje os melhores grupos da análise do comportamento adaptaram a
teoria para falar de comportamento e cognição como processos diferentes,
adequando-se à linguagem de outras disciplinas mais tradicionais na área.
Para alguns autores já estamos
na quarta onda das terapias comportamentais. A preocupação de Aaron J.
Bronwnstein com a possibilidade de análise comportamental de relações
comportamento-comportamento abriu o caminho para o desenvolvimento do
contextualismo de Hayes e colaboradores, uma carta branca para o
“cognitivismo-comportamental”.
Estão esboçados acima três
exemplos do que acontece com a teoria quando se cisca para fora. Se a tendência
continuar veremos a análise do comportamento, que não se restringe ao que
Skinner escreveu em meados do século passado (teorias são resultado de
comportamentos, e como tal são suscetíveis às consequências), juntar-se a
outros avanços da ciência natural sob ataque das vanguardas do atraso, os
“criacionistas”. Alegar que os escritos de Skinner não podem virar doutrina não
pode ser desculpa para negar na prática a visão da psicologia como ciência
natural. Seriam os “cognitivo-comportamentais” os nossos criacionistas?
Interessante essa reflexão! Eu sou um dos que gosta de "ciscar para fora", mas o alerta é bem-vindo! Não seria o caso de um equilíbrio entre ciscar fora e dentro? fortalecer o campo internos e depois se arriscar para fora?
ResponderExcluirVocê só cisca para fora quando está dentro, mas mais interessado no que está fora. Não é o seu caso. Ciscar para dento é exatamente o que você e o Diego Manzano Fernandes fazem quando olham para fora com o objetivo de fortalecer a AC.
ResponderExcluirOs exemplos são realmente interessantes de serem estudados e mais debatidos! Fiquei pensativo!
ExcluirÓtima discussão, professor Todorov. A propósito, estou lendo o livro "The Influential Mind: What the Brain Reveals About Our Power to Change Others", da neurocientista Tali Sharot. É um ótimo exemplar de divulgação científica. Ricamente ilustrado com dados de pesquisa. Em algumas passagens fico em dúvida se ela não teve acesso à obra de Skinner: falta pouco para completar uma explicação comportamental (embora ela se volte para o cérebro e enfatize a filogenética). Acho que mereceria uma análise crítica de um behaviorista radical para mostrar que algumas das "novidades" do livro já aparecem na obra de Skinner dos anos de 1930. Exemplo de novidade: mostrar que o reforço positivo contingente ao comportamento é mais eficiente na mudança comportamental do que reforçadores negativos, principalmente quando se trata de uma ameaça de uma possível consequência aversiva no futuro.
ResponderExcluirSem dúvida, Maria. Em "O Comportamento dos Organismos" de 1938 Skinner já adiantava que muito do que interessava seria desenvolvido pela neurociência.
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