sexta-feira, 7 de julho de 2017

Consolidação de sugestões bem-humoradas para o ensino de Análise do Comportamento.

Consolidação de sugestões bem-humoradas para o ensino de Análise do Comportamento.

  Ditados populares são antigos, alguns tão antigos que são de épocas em que a transmissão da cultura era feita apenas oralmente, não havia memória escrita. São frases curtas, mas compactas quanto à descrição de relações comportamento-consequência que ilustram. Geralmente usam uma experiência comum a todos os membros do grupo para prepará-los para perceber relações do mesmo tipo no futuro:

         
Água mole em pedra dura tanto bate até que fura.

Ditado bom para mostrar que algumas consequências só ocorrem depois de várias tentativas, como quebrar um coco com uma pedra. No ensino de análise do comportamento pode ser usado para ilustrar os tópicos de variabilidade, momento comportamental e ressurgência. Quando a contingência (relação condicional) que mantém a estabilidade de uma relação operante-consequência é interrompida, o repertório do organismo naquela situação mostra alto nível de variabilidade, mas o operante não cessa de ocorrer. Continuará a ocorrer por mais ou menos tempo dependendo das condições que vigoravam no passado (momento comportamental). Se um novo operante for seguido pela mesma consequência, o primeiro operante cessa de ocorrer (água mole fura a pedra dura), para ressurgir se e quando houver extinção do segundo operante também (um processo conhecido na clínica como recaída).

         
Para bom entendedor, meia palavra basta.

Todo e qualquer operante envolve mais trabalho para modelar do que para manter. Modelagem é um procedimento de reforço diferencial de aproximações sucessivas da forma final desejada do operante, e isso quer dizer o seguinte: de início qualquer resposta existente no repertório que tenha alguma relação com o objetivo é reforçada. A seguir começa um treino de discriminação (reforço
diferencial), a resposta é reforçada em algumas situações mais próximas da situação final e não é reforçada quando emitida em outras situações – um procedimento semelhante àquela brincadeira de crianças do “quente” (reforço), “frio” (extinção).

 
No início, cada ocorrência da resposta exige mais esforço e leva mais tempo para acontecer; depois de completada a aprendizagem sua manutenção exige cada vez menos esforço.

Para bom “esquivador”, meia resposta basta.



         Ditados populares são antigos, alguns tão antigos que são de épocas em que a transmissão da cultura era feita apenas oralmente, não havia memória escrita.

         Longe dos olhos, longe do coração.

Muito usado antigamente para explicar porque a família mandava a mocinha estudar em colégio interno na Suíça para esquecer o namorado inadequado.

A frase chama a atenção para o poder do reforço contínuo e imediato e da proximidade geográfica e temporal de variáveis de contexto, como em situações de escolhas e decisões e de autocontrole. Um exemplo de consequência que está longe dos olhos (perder a hora de levantar no dia seguinte) mas que pode ser antecipada para perto do coração por uma resposta controladora: armar o despertador.

No caso da mocinha apaixonada, há outro ditado que explica a vantagem do primeiro: nada como um novo amor para esquecer o mais antigo.

Promessas não pagam dívidas.

Mas funcionam como estímulo reforçador, dependendo de quem promete. Grande parte da rede de interações que organiza nossa vida em comunidade é mantida pura e simplesmente por comportamento verbal, aquele que só produz ondas (sonoras).

Promessas não pagam dívidas mas mantêm a fidelidade do militante até a próxima eleição.


 “Nenhum homem é uma ilha” é uma frase que tem mais de 500 anos, de autoria de John Donne e usada por empréstimo por muitos autores. Ela resume a informação de que vivemos em comunidade e é assim que nos tornamos humanos. O processo de civilização e aculturamento do bebê leva anos e utiliza interações com centenas de outros humanos – a ponto de um antigo ditado africano dizer que é preciso uma aldeia para educar uma criança.


Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem faz parte de sua comunidade verbal selecionadora.


         Por outro lado, parece que ser de casa também traz desvantagens. Estrangeiros tendem a ser melhor tratados pelo grupo quando há interesse em que sejam atraídos. Parece que manter quem já faz arte da comunidade verbal selecionadora custa menos esforço que atrair novos membros, daí a necessidade de lhes dar mais atenção. No churrasco na casa do ferreiro o melhor espeto vai para o forasteiro; os de casa podem usar espeto de pau.



Ninguém é profeta em sua terra.

Casa de ferreiro, espeto de pau.


Quando o gato sai, os ratos fazem a festa.


Punição não funciona quando a situação sinaliza que ela não vai ocorrer. Mais ou menos o que ocorre no carnaval e nas passeatas contra o governo.

         O controle do comportamento por antecedentes e situações leva certo tempo para ocorrer. Aprendemos aos poucos a não gastar energia em situações nas quais um determinado comportamento nunca foi reforçado. Um exemplo? Com pouco mais de um ano minha filha pedia licença à cadeira que atrapalhava seu deslocamento pela sala. Aprendeu rapidamente que cadeiras e cachorros não entendiam português. Da mesma maneira aprendemos que certos comportamentos são punidos em algumas ocasiões, mas não em outras.
         Tendo aprendido depois de milhões de ano de evolução que punição é um processo complicado, desagregador, gerador de contra controle, os grupamentos humanos costumam delegar autoridade para punir a certas pessoas ou grupos. Em algumas famílias a mãe se encarrega das ameaças e o pai da guilhotina, que corta mesada, horas na internet, et.
         Se o encarregado da punição não está presente, a gandaia pode correr solta.
Quando o gato sai, os ratos fazem a festa, 
desde que ninguém seja tentado por delação premiada.



         Dizem que no princípio era o verbo. Os verdadeiros behavioristas acham que no princípio era a variabilidade. Eu pessoalmente acho que no princípio era a variabilidade, logo depois aumentada pela invenção do comportamento verbal.
            O comportamento verbal não veio só para ajudar, veio para confundir. Às vezes ajuda, mas quando você tenta entender, a confusão aumenta. Para começar, você nunca tem garantia de saber com quem está falando, com qual ouvinte ou com qual falante de cada uma das várias duplas de repertórios verbais que habitam naquele organismo. Muitas vezes, cercado de pessoas que deveriam estar prestando atenção, você descobre que só você mesmo está se ouvindo. Você convida sua mulher para jantar achando que fala com a namorada, mas quem pode estar ouvindo é a tesoureira; seu repertório adulto funciona só até as cinco, às seis e meia você está pronto para a nova série do Netflix, mas te pedem uma avaliação da situação econômica da família.
            Sem variabilidade não há evolução. O comportamento verbal está aí para não deixar a vida ficar monótona. 




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