Memórias
de um Analista (Comportamental) de Cargos.
CINQUENTA ANOS DEPOIS
As
iniciativas voltadas para a industrialização do país, depois da Segunda Guerra
Mundial, tiveram o apoio sistemático da comunidade científica brasileira,
liderada pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC),
inspirada na American Association for the Advance of Science (AAAS). Os
alicerces do processo foram as criações das empresas estatais Companhia
Siderúrgica Nacional (CSN) e Petrobrás (“O petróleo é nosso”, lema também
abraçado pela União Nacional dos Estudantes – UNE). O pontapé inicial foi a
eleição de Juscelino Kubitschek, que prometia o desenvolvimento de 50 anos em
5, com base na interiorização do país, com a mudança da capital, a construção
de estradas e a implantação da indústria automobilística.
Juscelino
prometeu e as indústrias vieram. A região metropolitana da São Paulo abrigou as
grandes empresas estrangeiras, não só as automobilísticas. Em 1960 a General
Electric, a grande multinacional americana, tinha três fábricas no Brasil:
Santo André, SP (eletrodomésticos), Campinas (locomotivas elétricas) e Rio de
Janeiro (lâmpadas). O crescimento foi rápido demais para o número de pessoas
com habilidades técnicas necessárias para a ocupação dos cargos que iam sendo
criados.
A competição por
trabalhadores especializados foi tal que os setores da administração de pessoal
dessas grandes empresas eram repetidamente pressionados para recrutar
trabalhadores já treinados, pelo SESI ou pelas empresas nas quais estavam
empregados. Esses departamentos de gestão de pessoas empregavam profissionais
formados em qualquer curso universitário, praticamente, com maior concentração
em administração e pedagogia, quando possível. Não havendo, como não havia,
tais profissionais com experiência buscavam alunos nas universidades. Por conta
de um bom relacionamento com um colega de diretoria do diretório acadêmico da
faculdade de filosofia da USP, que já estava empregado como analista de cargos
na General Electric, fui convidado pela empresa, mesmo estando apenas no
segundo ano do curso de psicologia. Naquele tempo os requisitos, além da
indicação de quem convida, eram simples: ser universitário e ler inglês. O
resto a empresa ensinava durante as horas de trabalho. A tarefa sempre mais
premente era a pesquisa de remuneração: quanto as outras empresas estavam pagando
seus trabalhadores nos cargos equivalentes aos que existiam na GE.
Começando com o
exemplo mais dramático: o ferramenteiro, aquele que entende e opera as máquinas
ferramentas, aquelas que participam da construção de outras máquinas que vão
fabricar peças ou componentes. A análise mostra o ferramenteiro como o cargo
que mais exige em termos de formação, experiência, habilidade e
responsabilidade (não me lembro de todos). A questão maior era quanto a GE
teria que pagar a seus ferramenteiros para que não fossem recrutados por outras
empresas.
A pesquisa de
salários no mercado era importante não só para os cargos usados pela
concorrência, mas também para os outros, visando um equilíbrio entre os
salários de mercado e a estrutura interna da hierarquia de cargos e salários. O
desenvolvimento acelerado do começo dos anos 60 tornava indispensável pesquisas
de salários no mercado a cada três meses, seguidas pelos reajustes salariais
necessários. Estávamos no início do processo inflacionário atribuído à velocidade
dos 50 anos em 5 e que mais tarde viria a se tornar quase impossível de ser
contido. Só o foi 30 anos depois, no governo interino de Itamar Franco.
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