quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Contingências e metacontingências nas estruturas de cargos e salários das empresas.


Memórias de um Analista (Comportamental) de Cargos.

 CINQUENTA ANOS DEPOIS

                As iniciativas voltadas para a industrialização do país, depois da Segunda Guerra Mundial, tiveram o apoio sistemático da comunidade científica brasileira, liderada pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), inspirada na American Association for the Advance of Science (AAAS). Os alicerces do processo foram as criações das empresas estatais Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e Petrobrás (“O petróleo é nosso”, lema também abraçado pela União Nacional dos Estudantes – UNE). O pontapé inicial foi a eleição de Juscelino Kubitschek, que prometia o desenvolvimento de 50 anos em 5, com base na interiorização do país, com a mudança da capital, a construção de estradas e a implantação da indústria automobilística.

                Juscelino prometeu e as indústrias vieram. A região metropolitana da São Paulo abrigou as grandes empresas estrangeiras, não só as automobilísticas. Em 1960 a General Electric, a grande multinacional americana, tinha três fábricas no Brasil: Santo André, SP (eletrodomésticos), Campinas (locomotivas elétricas) e Rio de Janeiro (lâmpadas). O crescimento foi rápido demais para o número de pessoas com habilidades técnicas necessárias para a ocupação dos cargos que iam sendo criados.

A competição por trabalhadores especializados foi tal que os setores da administração de pessoal dessas grandes empresas eram repetidamente pressionados para recrutar trabalhadores já treinados, pelo SESI ou pelas empresas nas quais estavam empregados. Esses departamentos de gestão de pessoas empregavam profissionais formados em qualquer curso universitário, praticamente, com maior concentração em administração e pedagogia, quando possível. Não havendo, como não havia, tais profissionais com experiência buscavam alunos nas universidades. Por conta de um bom relacionamento com um colega de diretoria do diretório acadêmico da faculdade de filosofia da USP, que já estava empregado como analista de cargos na General Electric, fui convidado pela empresa, mesmo estando apenas no segundo ano do curso de psicologia. Naquele tempo os requisitos, além da indicação de quem convida, eram simples: ser universitário e ler inglês. O resto a empresa ensinava durante as horas de trabalho. A tarefa sempre mais premente era a pesquisa de remuneração: quanto as outras empresas estavam pagando seus trabalhadores nos cargos equivalentes aos que existiam na GE.

Começando com o exemplo mais dramático: o ferramenteiro, aquele que entende e opera as máquinas ferramentas, aquelas que participam da construção de outras máquinas que vão fabricar peças ou componentes. A análise mostra o ferramenteiro como o cargo que mais exige em termos de formação, experiência, habilidade e responsabilidade (não me lembro de todos). A questão maior era quanto a GE teria que pagar a seus ferramenteiros para que não fossem recrutados por outras empresas.

A pesquisa de salários no mercado era importante não só para os cargos usados pela concorrência, mas também para os outros, visando um equilíbrio entre os salários de mercado e a estrutura interna da hierarquia de cargos e salários. O desenvolvimento acelerado do começo dos anos 60 tornava indispensável pesquisas de salários no mercado a cada três meses, seguidas pelos reajustes salariais necessários. Estávamos no início do processo inflacionário atribuído à velocidade dos 50 anos em 5 e que mais tarde viria a se tornar quase impossível de ser contido. Só o foi 30 anos depois, no governo interino de Itamar Franco.




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