As agências de controle social,
no sentido skinneriano do termo, controlam as relações condicionais que regulam
a vida em sociedade, em grande parte por controle aversivo, por meio de ameaças
(avisos da intenção de punir) e de punições de fato, como multas e/ou restrição
de liberdade. Comportamentos perigosos para o equilíbrio das interações entre
pessoas e entre instituições são estritamente vigiados. Uso de violência, por
exemplo, é privativo do Estado, por meios bem definidos em leis. Quando uma
prática cultural precisa ser mudada o aparato policial entra em cena e
rapidamente todos estamos usando cinto de segurança, só fumamos em lugares
permitidos, não bebemos quando vamos dirigir, etc. O Estado também diz (mas só
da boca para fora) que outras práticas culturais também precisam ser mudadas,
como os comportamentos que definem o racismo, mas aí a abordagem é bem mais
frouxa. Entram em cena os especialistas em mudar “os corações e as mentes” dos
racistas.
Resolvi
escrever depois de ler artigo no New York Times assinado por um professor de
direito, P. A. Goff, sobre o dia de treinamento promovido pela rede Starbucks.
Para compensar a publicidade negativa que teve quando seus empregados chamaram
a polícia porque dois negros estavam sentados em uma das mesas sem ter comprado
nada - foi notícia no mundo inteiro – a Starbucks reagiu com um gesto
sensacional: fechou todas as suas mais de 8 mil lojas em um mesmo dia para um
treinamento sobre como evitar o viés racista. A iniciativa da empresa foi muito
elogiada, mas o Professor Goff chama a atenção para o fracasso dessas
iniciativas quando tomadas isoladamente. No lugar de sessões de treino a
Starbucks poderia ajudar com verbas a iniciativas que ofereçam opções para a
solução de conflitos que não sejam a polícia. Nos Estados Unidos as pessoas
telefonam para o número 911 e o atendente decide, pelo tipo de situação, se
manda os bombeiros ou a polícia. O caso da loja de Philadelphia poderia ter
sido resolvido por grupos de assistentes sociais treinados para mediar
conflitos, como existem na California. Se você chama a polícia o caso vai ser
abordado como policial.
Gastar
um dia treinando 175.000 empregados e acreditar que isso resolve o problema só
tem sentido na convicção dos patrões e na crença arraigada em nossa civilização
cristã ocidental de que o mal mora no coração e nas mentes dos homens. Maneiras
de extrair de lá esse mal variaram de fogueiras a terapias, passando por
exorcismos. Continuar por esse caminho é parecido com a situação do bêbado que procurava
suas chaves aproveitando a luz do poste – sabia que não era lá que tinha
perdido as chaves, mas tinha que aproveitar porque ali era possível ver o chão.
Pois nós sempre achamos que educação resolve tudo, então vamos reeducar as
pessoas para deixarem de ser racistas.
Vejamos
o que escreveu Philip Goff sobre isso:
“A questão não é como educar as pessoas, é como mudar as
situações de maneira que o medo provocado por negros ou o desapreço por eles
não provoque uma resposta agressiva. E mudar situações se consegue com
políticas. Historicamente isso é que o país tem feito quando a questão da
discriminação racial é levada a sério. ”
A
mobilização política que produziu a integração racial nas escolas levou a
decisão à Suprema Corte, no processo Brown vs Board of Education. E a decisão
foi de que aquele comportamento era
inaceitável. Não foi “Por favor, mudem sua mente”. Da mesma forma, foram
mudanças na legislação, forçadas por movimentos populares, que proibiram a
discriminação de gênero nas escolas, e levaram à proteção de pessoas com
deficiências. A lei levada a sério muda comportamentos, propaganda não muda
nem a mente.
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